terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sobre as tempestades...

Existem pessoas na vida que são capazes de fazer chover dentro do outro. São capazes de tumultuar as coisas, de causar caos, de revolver tudo com a sua energia, pura e simples. Eu me reconheço nessas pessoas. Somos tempestades, cheias de fúria, de ímpeto. Mas também existem pessoas que mesmo sendo tempestades, deixam aquele cheiro de renovação, de terra molhada, de que se você olhar um pouquinho mais adiante vai ver o arco-íris... Rafael é dessas pessoas.

Na minha paixão e sede por palavras, tenho o hábito de pedir aos meus submissos que escrevam pra mim as suas impressões sobre nossas encontros. Faço isso por um desejo óbvio e egocêntrico de me ver adorada ali, nas suas lembranças, mas muito mais por considerar que a construção de uma relação, especialmente uma relação D/s se faz de entrelinhas... Nem sempre conseguimos ser claros o suficientes com a outra pessoa, nos desnudarmos de idéias pré-concebidas, medos, angústias. E acredito nas palavras como esse agente libertador.

Quando pedi a ele que escrevesse sobre o dia em que nos conhecemos, eu sabia que viria um texto carregado de sensibilidade. De paixão, de carinho, de respeito e de devoção. Viria um texto que me mostraria muito mais sagrada que profana, um texto que despertaria em mim todo o carinho que tenho por ele, e os demais sentimentos que vêm atrelados a isso. Mas quando eu li as palavras dele, uma por uma, por dezenas de vezes, percebi que ali estava muito, infinitamente mais do que eu talvez pudesse supor.

Ali estava ele, inteiro, jogado aos meus pés. Ali estava eu, inteira, de pernas abertas e não menos sagrada. Ali estávamos nós dois, exercendo de uma maneira linda, o direito de sermos indissociáveis. TOP e bottom se tornando um só, respirando no mesmo tempo, a cadência perfeita de dois ritmos tão diversos e tão sincrônicos. Os dois lados mais opostos e complementares da mesma moeda, aqueles versos todos que dão origem à uma poesia.

Transcrevo abaixo, a íntegra do que ele me escreveu. E, parafraseando a ele mesmo, essas palavras, muito mais que qualquer texto, vão ficar pra sempre guardadas no meu coração.

Te beijo, meu menino

Tua dona. Domme Morgana



"Era o começo de uma madrugada de 16 de Novembro... Mas muito diferente de todas as outras.

Única.

Uma madrugada que começava na tarde anterior. Com a preparação pra sair de casa e os tiros na rua que me atrasaram e quase impediram a noite.

Ou talvez essa madrugada tenha começado um mês antes, numa noite qualquer, adicionando uma pessoa interessante no Fetlife, que jamais quem adicionou, poderia imaginar ser quase uma alma-gêmea.

O atraso me fez parar na estrada, sem ônibus, sem nada. Mas peguei um táxi, o desejo de encontrá-la, era demais. E ela, sempre paciente e compreensiva, coisas apaixonantes, me aguardava do outro lado do telefone.

Finalmente cheguei do outro lado da cidade. Logo a avistei junto a um grupinho de amigos. Ao vivo, era deslumbrante, até melhor do que imaginava, pelas fotos, e já a imaginava incrível. Mas, como dizer. Não foi um "uau", como acontece em filme, apenas. Mas sim um "uau" pela naturalidade. Eu a via pela primeira vez. E mesmo virtualmente, a conhecia a pouco. Mas era ela. Era naturalmente, ela. A Domme. A mulher.

Mas é como se a conhecesse há muito, muito tempo. E eu senti reciprocidade, quando nos olhamos, e foi um olhar de alívio, de felicidade mútua, mas também, de naturalidade.

Quando me dei por mim, seu rosto já estava colado ao meu, e já estávamos nos beijando. Perdi totalmente a conta de tudo que acontecia à minha volta, a partir daí, e só fui recuperar isso horas depois. Foi um beijo incrível! Não poderia imaginar que beijasse tão bem. Colava perfeitamente comigo. Era um beijo perfeito, sem erros. Um beijo determinado, dominante, gostoso, foda. Pra minha sorte, esse beijo se repetiu inúmeras vezes durante a noite, com uma intensidade cada vez maior!

Vi umas pessoas à nossa volta. Fomos apresentados e logo subimos, onde tiveram mais apresentações. Não conseguia prestar atenção na festa, meus olhos estavam nela. E a vi dando um presente a uma amiga que a deixou com um sorriso de ponta a ponta, feliz, emocionada. Não tinha dúvidas, mas certeza de que além do nosso pequeno mundo, aquela Senhora era uma pessoa incrível.

Logo voltamos pro segundo andar. A partir desse momento, não consigo lembrar posso a passo, talvez, pela explosão de sensações, sensoriais, psico-somáticas...

Lembro de nós dois num quartinho escuro, conhecendo aos poucos, uma prévia de nossos corpos, se beijando.

Lembro de mim ajoelhado aos pés dela, conhecendo suas meias, conhecendo seu cheiro, conhecendo seus pés.

Ah, seus lindos pés. Seus pés que pareciam maiores nas fotos, e eram tão lindos e pequeninos, apaixonantes.

Lembro das amigas brincando, com pena. E ela, a tal "Domme Má", sentada literalmente em minhas costas, me fazendo de banco, sem pensar duas vezes, coisa que também fez no lado de fora, e eu me senti, de fato, um banco, dando descanso àquele corpo, àquele amor.

Lembro de nós subindo e descendo pelas escadas.

E também, lembro de como era prazeroso ficar atrás dela, com ela apoiando ou forçando seu belo corpo contra o meu, no lado de fora da festa, fumando.

Lembro daquele olhar. Ao mesmo tempo, um olhar dominador, de cima pra baixo, e um olhar lindo, apaixonado.

Então recordo de nós voltando ao quartinho. Absolutamente escuro, mas o tato e o cheiro agia no lugar dos olhos. Eu sentia ela me agarrar, me puxar pro seu corpo. Sentia o seu desejo, o seu fogo. Como também sentia seus sabores. Às vezes, a pegava. Apenas pra sentir ela abaixando minha mão e invertendo o jogo, me subjugando completamente.

Tudo Gostoso.

E ela se esfregava em mim, colocava meu rosto em seus seios, sussurrava no meu ouvido, me ouriçava. Até ficar em pé, à frente da porta. E a barulheira do lado de fora não parava de crescer. Foi o primeiro momento que lembrei que estava numa festa, cheia de gente. Mas logo esqueci disso. Ela me chamou. Me ordenou. E quando me dei por si, estava a tocando. E estava muito úmida. Tive a mais absoluta certeza do quanto ela estava gostando. E isso é ótimo. Saber que agradava uma pessoa tão incrível. Pus os dedos, senti a textura, senti umedecer ainda mais. Provei com a língua. Beijei com a boca. E se não fôssemos interrompidos pelo 'mundão' lá fora, que reclamava que saíssemos da sala, certamente iríamos além. Mas saímos.

Muita conversa, seus amigos. Seu corpo no meu. Seu cheiro. Seus LINDOS cabelos no meu rosto.

Noutro momento, estávamos dentro da festa novamente. Ela tirou meu blusão, amarrou meus braços. Foi buscar algo. Percebi um monte de gente me olhando, com olhares de tédio. Sim! A noite foi tão boa, que levei mais de 3 horas pra perceber que aquela festa estava uma porcaria. Mas a minha noite estava maravilhosa.

Ela volta, me venda, me põe no chão. Promete pra mim que vai respeitar meu limite. E eu confio, e embora não goste da dor, aceito. Pois já confiava nela, agora, Minha Senhora, e Meu Amor.

Minha Senhora então jogou a primeira gota em minhas costas. Doía. Eu mexia as pernas pra ignorar a dor. E a segunda, e a terceira gota. Senti um traçado, uma linha, em minhas costas. Num determinado momento, doeu muito. E senti que estava em bons cuidados: ela percebeu. E foi até o meu rosto. Me puxou pelos cabelos. Perguntou se estava tudo bem.

Eu queria continuar. Senti um segundo traçado nas costas. A partir daí, queria ignorar a dor. Prestava atenção na música. Preso no chão com o rosto no piso, dançava com as pernas, ouvindo a música. Por um momento, eu era apenas duas coisas:

Música.

E dor.

E...

Terminou.

O 'M' que estava em minhas costas eu só fui ver depois. Mas não precisei ver as fotos pra saber quão bem eu estava sendo cuidado. Dava até pra perceber um certo olhar de inveja nos festeiros-blasé que me olhavam entediados.

Ganhei um belo abraço. Voltamos pra fora. Cigarro, carinho, corpo dela no meu, paz. Tirei seus sapatos, dois saltinhos lindos, e duas armadilhas pra belos pés. Conversamos, rimos. A vi dando atenção pra seus amigos; muito importante.

Subimos. Eu já imaginava quando ela tirou os calçados pra me fazer uma surpresa que sabia o quanto queria; ter a honra de lamber a sujeira dos seus pés. E foi o que aconteceu. Fomos pro segundo andar, agora já quase vazio, eu me ajoelhei na frente dela, depois deitei, com seu lindo e sujo pezinho no meu rosto. Tenho uma avalanche de prazeres, impossíveis de transcrever. E vamos fazendo. Sentia que ela gostava. Minha Senhora tem prazer em dominar, em ser a dominante, e em sentir que eu estava tendo prazer.

A festa acaba, às 3 da manhã????????

Mas nossa festa continua. Ela me ordena levantar. Me abraça, sinto o aconchego. E então, me beija.

Me beija, mesmo sem ter lavado minha boca com cloro. Beija a mesma boca que estava nos seus pés sujos. Como isso me surpreendeu! De todas as formas. De tanta intensidade, de tanto prazer, meu corpo tremeu, e eu tive três orgasmos enquanto abraçava seu corpo quente. Essa memória, ficará além de qualquer texto, enquanto eu existir, para sempre no meu coração.

Mas a festa acabou, e tivemos de descer.

O resto, foram as memórias que se repetiam, enquanto conversávamos, até amanhecer e chegar o nosso táxi, que arbitrariamente terminou com uma das melhores noites da minha vida.

O cansaço? Só percebi na minha cama.

Te amo, Minha Senhora, Meu Amor."

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Retratos de submissão: Lobo da Morgana

Cada momento que vivemos na vida é único e deve ser vivido. Somente aqueles que se aventuram a descobrir o que tem por detrás da porta podem dizer, com orgulho ou derrota "eu vivi". Odeio o "e se". Eu me jogo, eu vou lá pagar pra ver. Algumas vezes dá errado, e essa cicatriz é só mais um aprendizado. Mas quando dá certo, é a melhor sensação do mundo... Fui invadida, literalmente invadida por um furacão, tão furacão quanto eu, tão meu espelho, tão MEU, nesse momento de transição, de despedida, de abrir mão do controle e deixar a vida fluir, que por muito pouco não sou pega completamente de chicote na mão sem saber o que fazer. O nome desse furacão? Rafael.

Rafael, meu menino. Aquele que eu ponho no colo, que no meu abraço se diz protegido e seguro. Rafael, com os olhos mais doces do mundo, que baixos, dizem "Minha Senhora e meu amor". Rafael, o homem que mexe com a minha libido, que me excita e me faz tremer os doces espasmos do gozo em suas mãos, na sua boca... Rafael, meu submisso.

Minha história com Lobo começou como tantas outras. A única diferença é que não foi um encontro,e sim um reencontro. Um reencontro de duas almas antigas, que há muito caminhavam por aí... É assim que nos sentimos com relação um ao outro, é assim que nós os sentimos, simplesmente.

Se disser que esperávamos por toda essa avalanche de emoções, de sentimentos e de sensações, seria mentira. Não esperávamos, apenas fomos vivendo. As descobertas, ou lembranças de outro tempo, talvez, nos invadiram meteoricamente, inesperadas e cheias de luz.

Horas e mais horas de palavras soltas, de frases explícitas, nunca serão suficientes pra descrever cada sensação envolvida até aqui. Cada respiração ofegante, cada sorriso, cada desejo aberto pro outro, de forma quase pueril, e ainda assim, cheio de paixão, de luxúria e devassidão.

Um dos relatos mais lindos que já li, enquanto Domme, saiu dos dedos dele, do coração dele. Apesar de muito antes disso ele já haver me surpreendido com a intensidade ponderada dele (sim, porque ele é um paradoxo), foi no dia em que eu li essas palavras que eu tive a mais absoluta certeza do quanto eu o queria pra mim. Foi nesse dia em que eu o enxerguei completamente por dentro, tão entregue, tão pequenino diante de mim, ali, aos meus pés. Nesse dia, eu o coloquei pra sempre no meu colo. No meu corpo. No meu coração.

"Quero tudo
Quero sentir o poder da Domme no olhar
Quero ouvir o estalar do chicote enquanto estou vendado
Quero sentir o gosto dos seus pés e lamber cada gota do seu suor
Quero sentir o seu beijo ardente chupando a minha língua...
Quero tudo
Quero saber que não sou nada perto de ti e que a sua vida, o seu prazer, o seu conforto é tudo que importa
Quero tudo... Do mais simples ao mais sórdido... Quero limpar os seus pés, quero te ver dormindo satisfeita, quero te chupar (desculpa se fui longe), quero ser a sua cama, senti-la dormindo tranquila em cima de mim. Quero sentir a sua essência. Quero ser uma estrela no teu universo.
Se eu choro? Dependendo do que acontecer, igual uma criança
Mas enfim... Quero beijar suas nádegas e passar uma hora inteira adorando e lambendo o seu ânus, sem parar. Em outras palavras, quero todas as sensações e prazeres, físicas e mentais que esse caminho possa nos oferecer. Quero tudo.
Então também quero chorar e te vendo sentindo prazer e ficando inebriada...
Quero tudo, ser levado ao limite, levar trocentos tapas na bunda, ficar com elas roxas a ponto de chorar e te ver tendo prazer
Quero depois, com a bunda roxa, sentir seus dedos me penetrando... quero tudo. Tudinho.
Quero sentir sendo invadido pelos seus dedos, sadicamente me penetrando, sem dó, me vendo gritar de prazer enquanto me força de cara pra parede, sem piedade...
Quero ficar tão extremamente excitado que vou gozar sozinho, ou só com o seu pé empurrando, pisando no meu pau..
Quero te ver como uma Deusa, em cima de mim, sentada no meu rosto, com o mesmo olhar poderoso, mas gemendo de prazer
Enquanto minhas costas ainda ardem das chicotadas.
Bom, se me cabe querer, é tudo isso que eu quero."

Meu anjo, meu menino. Te cabe querer tudo de mim, todos os dias, cada dia mais. Te cabe desfrutar da tua dona, da mulher que te olha do alto e encontra teus olhos, que são os mais doces do mundo. Te cabe viver isso. Nos cabe sermos felizes, enquanto tiver que ser.

Te piso, te chicoteio, te acaricio e te beijo com a mesma intensidade. Com desejo. Com paixão. Com todo o furacão Morgana.




domingo, 26 de outubro de 2014

Despedidas e recomeços

Se existe um momento desagradável na vida é o momento de se despedir de alguém. Despedidas nunca são boas, por que levam com elas as histórias, os sabores, as lembranças, os sorrisos... Não existe nada que possa amenizar a dor de uma despedida, porque elas nunca são voluntárias. E a gente não tá preparado nunca pra abrir mão de nada nem de ninguém.

Nem sempre  o que motiva uma despedida é trágico. Muitas vezes, elas simplesmente precisam acontecer. Fazem parte dos muitos ciclos da vida, que se fecham pra que novos ciclos possam começar, pra que a gente tenha coragem de dar um passo a frente, sair da nossa zona de conforto, se jogar de cabeça em algo que parece improvável, perceber novas cores, ouvir novas músicas, deixar os braços abertos pra receber um abraço novo.

Faz tempo q estou me preparando pra uma despedida... Despedida de alguém que foi responsável por uma mudança de 180 graus na minha vida. Alguém que me trouxe de volta, alguém que permeou meus pensamentos e minhas vontades por mais de um ano. Mas a vida, ah, a vida, andou se encarregando de promover essa despedida, e por mais força que eu tenha no chicote, a força dela é muito maior. Não tem o que eu possa fazer contra essa força chamada vontade. Quando ela não existe mais, todo o resto, por mais colorido que já tenha sido um dia, perde a cor. 

Eu poderia parafrasear milhares de autores que já falaram das dores de uma despedida, mas eu prefiro, agora, citar a Pitty, quando ela diz "Você está saindo da minha vida e parece que vai demorar". Isso parece uma sentença amarga, como uma morte lenta, uma tristeza que nunca vai embora, mas lá na frente ela diz "que essa abstinência uma hora vai passar." E passa. Sempre passa, e se eu me conheço bem, nesses 38 anos que convivo comigo, eu não curto essa dor por muito tempo. 

Viver pra mim, tem sabor de descoberta. Não tenho medo de me jogar e me ralar toda, nunca tive. E a arte de dominar, pessoas e emoções, eu conheço muito bem. Não me escravizo, não me puno. Eu vivo. E tudo o que eu vivi valeu a pena, mas ainda há muito, muito pra ser vivido. 

E não é que nessa de viver a gente acaba descobrindo que logo ali, no fim do túnel, a luz brilha mais forte do que aqui dentro? É uma escolha, o preto-e-branco, o amargo, o vazio, ou as cores,intensas e fortes, a doçura e a sensação de plenitude. Como eu nunca sou morna, eu escolho o meu sangue em ebulição. Escolho jogar esse jogo perigoso e excitante, mais uma vez. Brincar de roleta-russa. Escolho a carne trêmula, o frio na barriga, a visão do homem que eu quero, de joelhos, entregue, exausto e MEU.

Entre todas as escolhas que eu poderia fazer agora, eu escolho ser a Domme. Eu escolho, definitivamente, ser Morgana. Essa mesma Morgana que, por anos adormecida, acordou com uma sede que nunca foi saciada. A Domme sádica e doce, cruel e piedosa. A mulher que é forte o suficiente pra machucar mas sensível a ponto de por no colo. A dominadora que empunha o chicote e a palmatória com a mesma maestria que cura qualquer dor. Aquela que é capaz de provocar sofrimento e, ao mesmo tempo, levar ao êxtase com os lábios mais doces e as mãos mais hábeis, excitando, provocando e se derramando em prazer.

Essa é a Domme. Essa é a mulher. Essa sou eu, com o perfume mais enebriante de todos. 

Perfume de Morgana.





quinta-feira, 16 de outubro de 2014

FEMDOM - Dominação feminina


Quando fui convidada pra escrever sobre dominação feminina, pensei que seria simples colocar no papel a minha experiência de vinte e um anos como domme. Entretanto, quanto mais eu pensava sobre as minhas vivências, quanto mais revivia lembranças, mais eu encontrava dificuldades em dar o “start” neste texto.

FEMDOM (do inglês “female domination”) é a vertente do BDSM em que o dominante (TOP) é a mulher, podendo ter homens ou mulheres como bottoms. Para falar sobre dominação e supremacia feminina, devo fazer uma breve introdução histórica sobre o papel da mulher na sociedade, machista e patricarcal, em que vivemos.

Já faz parte do senso comum que a mulher deve ser ensinada desde bem cedo, a servir e obeceder. De algumas décadas pra cá, após o advento do movimento feminista e a famosa queima dos soutiens, a mulher tem brigado contra esses estereótipos e conquistado o direito de ser vista não mais como um objeto de desejo masculino, mas como um semelhante, dono das suas escolhas, com direitos sobre seu corpo e com a prerrogativa em dizer “não”. Mas embora tenhamos uma mudança importante de panorama, em tese, na prática essas peculiaridades da relação homem-mulher ainda são fortemente arraigadas a valores coloniais. O mercado de trabalho ainda paga menos às mulheres que ocupam os mesmos cargos que os homens, as mulheres ainda são julgadas pela sua forma de se vestir, por estarem sentadas em um bar rodeada de amigos homens, como se isso fosse um sinal verde pro sexo. Não sou poucas as vezes que ainda ouvimos a respeito das vítimas de estupro “mas vc viu o tamanho da saia que ela estava usando?”.

Na contramão desses conceitos, existem mulheres que mesmo sem qualquer relação com o BDSM, são dominantes. São aquelas que sabem impor seus pontos de vista, que conduzem as relações, que são irresistivelmente sedutoras sem serem promíscuas ou vulgares, simplesmente porque não precisam usar o sexo como arma. São mulheres seguras de si, do seu valor, do seu poder, sem as neuroses de baixa auto estima. São, mulheres, pura e simplesmente, que não têm medo da fogueira, que não escondem a sua natureza forte e sensível, firme e doce.

Em termos de BDSM, temos diversos tipos de dominantes femininas. A nomenclatura FEMDOM é extensa e existe em diversos sites sobre o assunto. Segue abaixo um resumo básico:

Deusa
É uma Dominadora que gosta de adoração. A TOP se torna, nesse contexto, o objeto de veneração, física, psicológica e até espiritual, por parte do bottom.

Dominadora
O termo está associado à TOP feminina não-sádica. Refere-se diretamente a relações D/s (dominação e submissão). O termo está associado a jogos de controle. A Dominadora gosta de controlar aspectos físicos e emocionais e sociais da vida do dominado.
Dominatrix ou Pró-Domme
É uma Dominadora profissional. Normalmente uma taxa é cobrada por sessão, mas em alguns casos os valores são estipulados por período. Há muitas controvérsias sobre a dominação profissional estar ou não ligada à prostituição, visto que muitas garotas de programa são pagas para desempenhar o papel de dominadora por seus clientes, porém, em tese a dominação profissional envolve erotismo,e não sexo propriamente dito.

Domme
É uma Dominadora que gosta de práticas sádicas e que mescla o uso de jogos psicológicos e o ato de infligir dor e sofrimento. Está associado diretamente ao sadomasoquismo.

Mistress
Possui profundo conhecimento prático e teórico sobre o BDSM. É uma estudiosa dos fetiches, mesmo os que não estão entre suas preferências. O título mestra não se aplica somente às conhecedoras da teoria, mas àquelas que desejam passar seu conhecimento adiante.

Mommy

É a TOP que nutre cuidado parental pelo seu bottom. Suas práticas estão diretamente ligadas ao infantilismo (little) , não tendo envolvimento ou fetiches associados à incesto e pedofilia.

Rainha
É uma Dominadora que gosta de adoração dos pés e aos seus pés. Sua essência está ligada diretamente à podolatria. Práticas como trampling, crushing e footjob estão associadas a esse título.

Sádica
TOP que sente prazer na dor do BOTTOM. Esse tipo de TOP não envolve jogos de poder em suas sessões, apenas se atém ao ato de infligir dor (de forma segura e sadia), o que as diferencia das Dommes, cujas práticas sadomasoquistas se aliam ao controle.


As bases psicológicas da dominação feminina estão relacionadas fundamentalmente a dois cenários: a natureza da mulher, no caso daquelas que “nascem” dominantes, e a história pessoa de cada uma. Existem mulheres, como mencionadas acima, que mesmo sem qualquer relação com o BDSM tem a essência dominante e isso pode ser direcionado, ao longo dos anos, do desenvolvimento de gostos e fetiches, a uma relação D/s. Contudo, existe um outro grupo, que sofre uma mudança de comportamento, em virtude de relacionamentos “baunilha”, e acaba por descobrir uma maior satisfação em ser o parceiro dominante. Nesse caso, teço algumas considerações sobre o que tenho visto no cenário BDSM ultimamente, sobre mulheres que foram levadas, não por opção, mas por sofrimento, a se assumirem como dominantes como forma de se sentirem mais protegidas, de não sofrerem abusos ou agressões.

Tenho observado com certa tristeza um aumento de mulheres dominantes que querem se vingar dos homens que as magoaram ou humilharam, e estas, são péssimas dominantes porque são incapazes com compreender que uma relação D/s envolve afeto, cuidado, atenção… Essas mulheres querem humilhar e agredir sistematicamente aos homens, não obtendo qualquer prazer na entrega do submisso, antes, seu prazer está diretamente ligado à ação de reviver o que foi feito com elas e despejar no outro suas frustrações.

Existem ainda as dominantes que exploram financeiramente os submissos, mesmo que não vivam uma relação de “money slavery”. Estão inseridas nesta categoria, mulheres de carater duvidoso e oportunistas, que nada sabem sobre BDSM e o que constitui uma relação D/s. Geralmente se dizem dominadoras, e convencem aos bottoms iniciantes que este comportamente é perfeitamente normal e aceitável, quando está muito longe disso.
Excetuando esses casos que na verdade não são FEMDOM, falo sobre a minha experiência como Domme. Dominar pra mim, é um ato de receber nas mãos a essência de uma jóia rara. Ao contrário do que leio e vejo por aí, os submissos não são fracos, vermes inúteis e tampouco lixo. É preciso ser um homem muito forte pra abrir mão do que preconiza uma sociedade inteira e se entregar, de livre e espontânea vontade, nas mãos de uma mulher que vai subjugá-lo. É preciso muita empatia para ser um bom dominador, enxergar a entrega pelos olhos do submisso e entender que dar-se inteiramente a alguém envolve abrir mão de muita coisa. Ser um dominador de verdade significa ter a consciência de que você é responsável pela integridade física e emocional de outra pessoa, porque é extremamente fácil empunhar um chicote e bater, mas não é tão simples receber os açoites e agradecer por eles.

O meu olhar sobre a dominação feminina é um olhar de parcimônia. Eu nunca deixo de ter em mente que eu sou uma mulher, e portanto, biologicamente mais frágil que um homem. Todo o poder que eu exerço sobre ele é a custa de um trabalho de reconhecimento, de sensibilidade e de interação. Não funciona pra mim, conhecer um submisso hoje e ir pra uma sessão com ele amanhã… Eu preciso conhecer aquele que estará nas minhas mãos, que vai ser açoitado, humilhado, imergido em dor, angústia e sofrimento, porque sou eu quem vou dar a ele a redenção sobre tudo isso. Vejo com muita desconfiança a frágil construção das relações D/s em tempos de redes sociais. Comecei a dominar num tempo em que as pessoas se comunicavam por cartas, que os encontros eram olho no olho, em grupos muito seletos de pessoas que sabiam exatamente o que estavam indo buscar. Hoje, o BDSM se resumiu, infelizmente, a um sexo fácil, liberal e com algumas palmadas, mas definitivamente, isso não é dominar.

Quando vou para uma sessão com um submisso, analiso cuidadosamente o ambiente e preparo a cena, pra tornar aquilo a atmosfera de sedução e poder na qual eu sou a dominante. Apago a luz, acendo as velas, o incenso e coloco música. Nunca deixo o submisso ver os acessórios que serão utilizados na sessão porque a ansiedade e a incerteza fazem parte do jogo psicológico. Todos os limites do submisso já estão registrados em mim, de forma que, na hora em que a porta se fecha, sou eu quem mando e não há nada mais a ser discutido. Domino com maestria, por levar o meu bottom ao estado de total entrega e dependência do qual eu, e apenas eu consigo tirá-lo depois. Domino com sensualidade, explorando o corpo do submisso, para proporcionar prazer que se retroalimenta em uma entrega ainda maior.

Estados psicológicos como o subdrop e subspace são realidades e devem ser considerados. É importante que o dominante, seja homem ou mulher, saiba reconhecê-los e esteja preparado pra atuar nesses momentos. Um aftercare bem feito é indispensável. No meu momento pós sessão, acolho os meninos no meu colo, beijo, acaricio sem qualquer conotação sexual. É o momento do abraço, de deixar rolar as lágrimas ou de ficar no silêncio absoluto, e como isso varia muito de pessoa a pessoa, reforça ainda mais a minha ideia sobre conhecer a peça que está sob o seu comando.

Relações de dominação feminina não tem o sexo como componente principal. Geralmente, acontecem brincadeiras sexuais entre TOP e bottom q não culminam necessariamente com a penetração, pois o ato de penetrar, que subliminarmente, está envolvido com a supremacia masculina, e uma relação FEMDOM insipiente pode ficar desgastada sob esse aspecto. É preciso ter domínio total e irrestrito da peça para que a mulher não se coloque, mesmo que momentaneamente, num estado de fragilidade frente ao seu submisso.

Finalizo este texto (enorme), dizendo que sou dominante por natureza, escolha e vocação. Subjugar um homem e colocá-lo aos meus pés é um dos meus maiores prazeres. O cheiro, o gosto, a respiração ofegante, o desejo que arrepia os pêlos e seca a boca, são nuances puramente poéticas, pra mim. As lágrimas submissas, são o meu lago preferido, e a imagem do submisso, ajoelhado aos meus pés e agarrado as minhas pernas,o quadro mais belo que eu aprendi a pintar.






segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Da dor ao prazer

Sinta a dor
Alimente-se dela
Deixe-a dominar-te até 
O limite do insuportável

Sinta a dor
E se entregue a mim
Como se eu fosse o seu senhor
Perca a noção das horas
Dos dogmas e de pertencimento

Sinta a dor
Flagele-se diante do espelho
Enquanto observo atentamente os teus gestos,
Brinque com o que os ditos decentes
Temem admitir

Sinta o que advém da dor
Entre em êxtase
Com esse prazer intenso,
Que a séculos é dito como sujo, torpe...
Saborei-o como um bom vinho.
Deixe se corromper
Afinal, és simplesmente
O que queres ser.

Sinta a dor
E divida as nuances deste sentimento.
Exercite sua cumplicidade.
Estenda as mãos a mim,
Mostre sua devoção.

Sinta as dores do amor
Não convencional,
Da paixão execrada pelos folhetins,
Do amor vivido
Nos porões da existência

Sinta a dor
E que a marca do seu suplício
Seja o teu troféu.
Se entregue,
Já que és assim
E nem imaginávamos.
Sinta a dor...


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Pedacinhos de Morgana

Renda, lingerie, meia 7/8... Elementos pedidos por vc, meu menino, e prontamente atendidos pelo meu desejo de te fazer meu. Lembro-me das tuas mãos, descendo lentamente as alças da camisola pra lamber os meus seios com ardor, tocando as minhas pernas, e teu toque, sobre a seda das meias fazendo meu sangue entrar em ebulição. Essas mesmas mãos massageando as minhas costas com óleo perfumado, e até o tapinha que me deu na bunda, com toda rebeldia que vc tem, me arrancam sorrisos fora de hora.

As tuas lembranças só não são mais gostosas q tua presença. E de novo vc vai me ver, assim, pronta pra ser tua dona.

Te beijo com carinho

Tua domme







domingo, 18 de maio de 2014

D. da Morgana

Depois de oito longos meses de vontade, de tesão, de palavras incansáveis, ontem, finalmente, eu e D. nos encontramos. Passei a tarde conversando com ele, tentando não mais adiar esse encontro, já que com a gente, tudo acontece. Quando finalmente acertamos tudo, perguntei se ele estava com medo, ele me disse q sim, mas q era de excitação, além de um frio na barriga enorme. Curiosamente, no momento em que eu tive certeza de q iria vê-lo, todas as minhas ansiedades se aquietaram e fui invadida por uma calma inexplicável, talvez, o sangue frio dos predadores...

Cheguei ao local combinado e ele já estava lá. Me recebeu do jeitinho q eu havia mandado, de blusa social, calça jeans desabotoada e descalço. Coloquei minha mochila de lado e quando o abracei, fui presenteada com o cheiro dele, que tá até agora no meu corpo. Ele beijou meus cabelos e me disse: "Hum..q cheiro bom". Depois, segurou meu rosto e me deu um beijo na boca, suave, gostoso, mas ao mesmo tempo carregado de toda essa vontade q nos consumia. Retribuí, agarrando os cabelos dele, e mordendo seus lábios, sem vontade nenhuma de sair dali, embora eu soubesse que coisas muito mais gostosas estavam por vir...

Tirei a venda e a algema da bolsa, coloquei nos olhos dele e subimos a escada. Nessa sala, mandei q ele se sentasse no chão e o algemei ao pé da cama, depois de desabotoar lentamente a sua camisa, e lamber seu peito. Ele tentava me beijar, oferecia os lábios e eu recuava, então ele disse "por favor, me beija". Não fui capaz de resistir à esse apelo, mais por egoísmo do q por bondade, já que seus beijos estavam me incendiando por dentro. O beijei mais uma vez, dei dois tapinhas no rosto dele e disse: "Agora você vai ficar aí."

Desci pra arrumar a sala em que passaríamos a noite. Naquele momento, olhando tudo ao meu redor, vestida com renda preta, senti medo. Na verdade, fui invadida pelo medo que me assombra desde que comecei a conversar com ele. Medo de pesar a mão, de machuca-lo, e assim, permitir que a realidade estrague toda a nossa fantasia.

Acendi as velas, e as dispus pelo chão. Acendi o incenso, tirei da bolsa os meus brinquedos e joguei no chão: cordas, chicote, mordaça, venda, algemas e prendedores de mamilo. Subi as escadas pra buscá-lo, e pude ver o quanto ele estava excitado, algemado à cama, de cabeça baixa. Abri as algemas, sentei na cama e ele, de pé, foi envolvido pelas minhas pernas. Disse que aproveitasse enquanto suas mãos estavam livres e ele segurou meus ombros, e foi descendo lentamente a alça da minha camisola de renda. Segurou meus seios, lambendo e chupando, com força, passando a língua quente pelos meus mamilos, acariciando e se esquecendo, deliciosamente, da sua condição de submisso. Naquele momento, não éramos domme e sub, e sim, homem e mulher. E foi nesse momento que ele me deu o primeiro presente da noite: Segurou as minhas mãos e disse, de um jeito firme e doce:"Eu confio em você".

Ao chegarmos à outra sala, ordenei q ele se ajoelhasse, e ele, lindamente, me ofereceu os pulsos juntinhos pra que u pudesse amarrar. Passei por eles uma algema de plástico e prendi, com força. Me coloquei atrás dele e passei metros e metros de cordas pelo seu corpo, prendendo as mãos e os pés... ele, indefeso no chão, gemia, resmungava, tentava falar, mas a mordaça colocada à sua boca não permitia. Eu sussurrei ao ouvido dele: "Sua palavra de segurança é casa". Ele assentiu com a cabeça e eu peguei a calcinha, passei pelo rosto dele perguntando se ele sabia o que era. Antes q ele me respondesse, abri sua boca e enfiei a calcinha pra abafar mais ainda suas vãs tentativas de protestar.

Ele ficou ali, deitado no chão, se debatendo e resmungando, choramingando e gemendo e eu, de pé, contemplava o meu menino, sentindo o tesão escorrer pelas minhas pernas. Peguei o chicote e passei por suas costas, num prelúdio do que vinha pela frente, e perguntei a ele se tinha valido a pena ser tão rebelde. Ele me disse q sim, e eu tive a castigá-lo por mais essa rebeldia. 

O som do chicote estalando no ar trazia à tona lembranças de um tempo em q eu nunca o largava. Fazia anos que eu não dominava, e na verdade, pareceu q não havia se passado um dia sequer. A voz sempre baixa, o sarcasmo, as provocações e meu companheiro inseparável, o sadismo, estavam ali, sorrindo a cada gemido de dor, a cada vez q ele se encolhia.

A visão dele nu, excitado, me despertava vontades diversas... Se por um lado era inadmissível um escravo de pau duro na presença da sua senhora, por outro, era extremamente prazeroso saber que era eu quem provocava aquilo. Eu o tocava, firme e vagarosamente, saboreando seus gemidos de prazer, seus suspiros, com as luvas de renda que tanto o haviam atraído. Perguntei a ele quantas vezes ele já havia fantasiado aquilo, disse q me desse um bom número, e ele me falou "Dez". Essa foi a quantidade de tapas na bunda q ele levou, com meus cinco dedos espalmados marcados nela. 

Ele ria, brat até o osso, dos tapas q levava. O amarrei de quatro e expus, vulnerável, aquela bunda q era só minha...Sussurrei ao ouvido dele: "Você tá aqui, D., pra ser a minha putinha." E desci o chicote, com força, enquanto ele contava os açoites e me agradecia, gemendo e gritando, com a calcinha na boca. Preguei-lhe uma peça: Perguntei quantas vezes ele já tinha comido a namorada pensando nisso, e ele, imaginando se tratar de novos castigos disse "doze". Então, segurei seu pau, duro e quente, latejante, e toquei, doze vezes, dizendo " que pena q foram só doze".

Ele dizia coisas incompreensíveis e então tirei sua mordaça... Ele disse "foram muitas, incontáveis, não tem como medir".   Soltei-o da cama e mandei que se ajoelhasse. Abri as pernas e segurei, firme, o seu cabelo, puxando a cabeça dele pra dentro de mim. Ele abriu a boca e chupou, devagarinho, saboreando meu gosto, mexendo a língua pra lá e pra cá, enquanto era a minha vez de gemer. Dei-lhe um beijo na boca, chupando a língua dele pra sentir o meu próprio gosto, agridoce, temperado de excitação e expectativa pelo que vinha pela frente. Mas a brincadeira tinha acabado e agora era a hora dele me dar o que eu mais queria. Sua angústia, desespero e dor, banhada nas suas doces lágrimas submissas.

Coloquei-o de pé, prendi a algema num ganchinho na parede e uni, pé esquerdo e mão direita num asymetric bondage. Coloquei os prendedores nos mamilos, e ele gemeu alto, dessa vez, de dor. Choramingava sistematicamente, gritava, e eu ouvia o q dava pra ouvir, o q não era abafado pela mordaça... Sussurrava humilhações e provocações ao seu ouvido, deixava a cera quente das celas derretidas queimarem suas costas, e a cada gota que pingava, mais alto ele gritava. Esperei, em vão, pela safeword que ele não falou... Quando percebi seus sinais, tirei a mordaça e ele me disse "por favor, não aguento mais".

Tirei os prendedores dos mamilos, a venda, soltei a algema q suspendia a mão, e desatei, calmamente os nós q prendiam a outra mão à perna. Ele ainda choramingava, e quando se colocou diante de mim, soltou o choro. Me deu, naquele momento, o q eu mais queria: suas lágrimas. Vê-lo assim, tão entregue e vulnerável, foi o meu momento de redenção como domme. Estava ali, resumidos, os oito meses de palavras infinitas, sedução mútua e desejos impublicáveis. Estava ali, o meu menino, que me chamava de "Minha Senhora". Estava ali, o homem que eu tanto havia desejado subjugar.

O aftercare com ele durou o resto da noite. Abracei, deitei ele no meu colo, acariciei o corpo dele com as mãos, com a boca, enlacei minhas pernas na dele, e deixei que ele pensasse, em silêncio, sobre tudo o q acabara de acontecer. Conversamos, ele expôs suas frustrações, e me disse, erradamente, que havia me frustrado em alguns aspectos. Talvez eu não tenha dito as palavras certas naquele momento, mas a hora q ele ler isso aqui vai entender, o quão perfeito ele foi. Me deu tudo o que eu quis. Talvez eu é que o tenha frustrado, avançando demais nos limites dele. Acabei por correr na estrada em que devemos andar, contrariando o que eu sempre disse.

Deitados, ele me dizia o quanto meu cheiro era bom. Mexendo no meu cabelo, dormimos. Um instante depois, ele disse: "Acordei com esse Poison no meu nariz. Enebriante o cheiro da Minha Senhora". Passamos o resto da noite ouvindo música, falando bobagens e rindo. Quando eu disse q tinha aberto exceção da minha "aposentadoria" pra ele e somente ele, me respondeu: "Eu também não quero ser dominado por mais ninguém. Não vou encontrar ninguém como você."

D., meu menino. Ainda há muito o q ser vivido por nós dois. A escolha, sempre foi e sempre será tua. Eu só estou aqui pra te conduzir. Levei comigo a vontade de anos e anos guardada e trouxe de volta a tua presença, o teu cheiro, o teu gosto. E não importa como isso vai se manter, ou se não vai. O que importa é que a tua voz, dizendo "Minha Senhora" e a visão de você ajoelhado, formam um dos quadros mais bonitos que eu já pintei.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Crônica falada

Sete meses. Sete longos meses me separam da primeira vez que falei com D., na noite do último dia 05 de setembro. Faltava exatamente uma semana pro meu aniversário, eu estava eufórica, cheia de comemorações combinadas com amigos, me sentindo feliz, sentindo a vida correr nas minhas veias, sentindo meu sangue ferver... Resolvi, despretensiosamente, ir conversar com Doms, Dommes, Submissos e apreciadores do BDSM quando o conheci. Nossa conversa inicial se transformou em bate papo diário, cada dia mais gostoso, mais interessante, mais vivo! Eu, ainda debaixo da sombra de anos sem dominar alguém, se por um lado não conseguia resistir à oferta dele, de se entregar inteiro e submisso pra mim, por outro morria de medo (sim, dominadores também têm medo) de voltar pra esse mundo do qual eu nunca havia conseguido sair completamente, medo de não saber dosar a mão e machucá-lo (esse eu sinto até hoje), cheia de reservas, de regras e de resistência...

Por muito tempo eu mantive como regra número 1 a negação de qualquer contato físico com ele. Um dia, numa dessas nossas conversas, ele me disse que me sentia muito tensa com relação ao sexo, e me tranquilizando, disse que isso não precisava acontecer. Acho que naquele momento, mesmo sabendo que eu é quem era o dominante, precisava ouvir isso. Precisava me sentir segura pq eu sabia no que eu me transformava na hora do sexo, e certamente, isso seria uma porta bem aberta pra eu perder completamente o controle. Precisava saber que nada, em momento algum, me faria deixar de ser a dominadora.

Até que um dia ele me fez um pedido: "Quero que me faça gozar.Por favor". Obviamente eu sabia q isso não ia acontecer sem que eu tocasse nele. Mas a vontade de submetê-lo a mim, de deixá-lo entregue, vulnerável e exposto, passava por esse momento, e eu quis, quis mais do que tudo, enlouquecer o meu menino de todas as maneiras que eu conhecia, e de tantas outras que tenho certeza de que vamos descobrir juntos. Hoje, quando releio nossas conversas fico encantada com a forma como isso avançou, e ainda essa semana ele me disse que isso ainda o assusta, embora a nossa percepção um do outro seja a de domme e submisso de anos, mas que era isso que também lhe dava a segurança pra ser dominado por mim.

D., meu submisso, conhecer o terreno em que se pisa é tão importante quanto dar o primeiro passo. E como é excitante pra mim, meu bem, saber exatamente o que você quer, o que você aguenta, porque eu sei que é daí que vou poder te conduzir adiante... Romper seus limites, te levar a lugares que você nunca sonhou estar... Eu quero você, escravo meu, nu, jogado aos meus pés, indefeso, esperando de mim todas as ordens, imóvel, assustado, com os olhos marejados de lágrimas, com um milhão de dúvidas. Quero que tire não somente as suas roupas, mas que se dispa dos seus medos, dos seus anseios e pudores, que jogue no chão tudo aquilo que te faz resistir e se entregue a mim sem reservas, porque é assim, exatamente assim que eu quero você.

Aceite, meu amor, as humilhações que te imponho, agradecendo por estar ali, debaixo do meu chicote, dos meus beijos, das minhas mãos que vão te infligir dor, mas que vão te levar ao êxtase, porque é quando eu te piso, que eu mais te quero... É nesses momentos em que você tem medo, e fica com o corpo arrepiado, que eu mais te desejo. Desejo ver sua pele branca marcada, amarrada com cordas vermelhas, seu corpo suado, pingando de medo, tesão e angústia, dominado por mim. Quero manter os teus olhos nos meus, até você enxergar que foi pra isso que você veio, pra ser submetido, humilhado e castigado, e quanto mais submisso estiver, quanto menor estiver diante de mim, maior vai ser o seu prazer...

Quero sentir você, no quarto cheirando a uma mistura de luxúria, 212 sexy e Poison. Quero nossos cheiros e nossos gostos misturados, sentir tua saliva quente na minha boca, nos meus seios, nas minhas pernas e entre elas, nos meus pés... Quero ver cada músculo do teu corpo se contraindo quando a cera das velas cair sobre o teu peito, tua barriga, e quando o gelo deixar de ser frio pra se tornar quente nas tuas costas, e depois arder ainda mais quando eu passar a minha língua sobre ela, lambendo teu corpo com tesão, com desejo, com aquela vontade desesperada de criar amarras invisíveis que vão te manter preso a mim mesmo depois que você for embora...

Nossos beijos serão tímidos no início, pra você perceber aos poucos a intensidade de tudo o que eu quero de você. Vou te deixar de quatro, literalmente, feito meu cachorrinho, passar o cinto pelo teu pescoço, prendendo e te trazendo até mim, até a minha boca que vai chupar a sua língua como num prelúdio de tudo que eu tenho preparado pra você. Amarrar seus pés com braçadeiras de plástico na cadeira, e, enquanto você estiver sentado, vou contemplar seu rosto, com os olhos vendados e a boca amordaçada, aflito pra gritar, pra dizer que dói não poder sentir o meu toque. Tuas mãos amarradas serão soltas pra você me mostrar o quanto você quer gozar. E você vai se tocar, linda e vagarosamente pro meu prazer, pra sua domme se tornar expectadora do espetáculo que é te ver acariciando seu próprio corpo, duro, quente e latejante, até que eu não aguente mais de vontade de tocar você, e quando esse momento chegar, eu vou te deitar na cama e te amarrar os pés e as mãos em x, de barriga pra cima, o mais exposto e vulnerável possível. 

Paraíso. Essa é a visão que eu tenho de você, deitado na cama, suado, se debatendo, com os mamilos duros se oferecendo pra eu morder, passar a língua e sugar, com força, cada um deles. Passar as unhas no teu peito e os vir cada vez mais arrepiados, e ir descendo, devagar, pra aumentar a sua vontade... Só aí vou te tocar. Vou segurar, com firmeza e dçura, em movimentos ritmados, ora lentamente, ora bem rápido, pra te levar ao limite do orgasmo. E vou parar. Você está terminantemente proibido, meu anjo, de gozar sem a permissão da sua dona.

Enquanto você estiver comigo, D., seu corpo é meu. Eu sou dona das tuas dores, e dos teus prazeres. Sou dona de todos os teus fluídos, do teu suor, da tua saliva, do teu sêmen. Nada mais pertence a você. Cabe a mim, e na hora que eu quiser, te devolver. Quando a sua adrenalina estiver no máximo, e a tua boca estiver seca, é nesse momento que eu vou passar a língua nos teus lábios e enfiar na tua boca, e te beijar até matar a sua sede. Teu suor vai escorrer entre os meus dedos agarrados no teu cabelo, e com esses mesmos dedos eu vou me tocar, e quando eu gozar você vai lamber um a um... 

Sentiremos prazer juntos. A cada gemido teu, a cada tentativa de falar, amordaçado, balançando a cabeça, cego e nu, eu vou lembrar que vivemos no meio de pessoas tão decentes, perfeitas e vencedoras, que somos nós dois, dominadora e submisso, aqueles que aceitaram a puta que vive dentro da gente. E deitado na cama, ainda sentindo os espasmos de um orgasmo que te foi negado, eu vou tirar a venda pra você me ver, entre as suas pernas, lambendo os dedos pra te tocar, e com a boca salivando, passar a língua debaixo pra cima, de cima pra baixo, numa cadência infinita, e abrir a minha boca, sedenta de você, do teu gosto, e te chupar bem gostoso, com força, olhando nos teus olhos, deixando que você veja a puta que existe dentro de mim e que te quer, inteiro, te babando, te engolindo, até você gozar na minha boca, no meu rosto, nos meus seios, e depois, quando eu te abraçar, esfregando meu corpo no seu, vou te devolver todos os teus fluidos, tua saliva, teu sêmen e teu suor...

O quarto agora não tem mais apenas os nossos perfumes. Cheira a sexo, a todo esse desejo latente por tanto tempo. Depois do teu orgasmo continuarei sugando você, sugando as suas forças, te deixando inerte, exausto, chorando, pra você repousar no meu colo. Deitado nele, você vai entender finalmente o que veio buscar, e perceber que eu te levei muito, muito além. Essa vai ser a algema que você não vai querer tirar tão cedo.

Te escrevo, meu amor, como se você estivesse aqui, do meu lado. Escrevo com uma mão no teclado e a outra dentro da calcinha, e se demorei mais do que de costume, é porque tive um excelente motivo. Gozei pensando em você.

Te prepara. Tenho fome e sede de você.