sexta-feira, 6 de novembro de 2015

As Bases do BDSM



Tenho visto com alguma frequencia uma certa confusão sobre o que é BDSM e o que não é, o que está inserido no contexto de uma relação D/s ou SM, e creio que uma boa forma de tentar elucidar algumas questões é definir, ou melhor, descrever, as bases do BDSM. Muitos praticantes sequer conhecem-nas, ou ainda, têm a fundamentação teórica mas não aplicam em suas práticas. Muitos o fazem conscientemente, o que em minha visão, é perigoso. Uma relação de dominação ou sadomasoquista, ao contrário de um relacionamento baunilha (excetuando-se os casos de agressão física e emocional), requer um “norte” para que não se torne completamente desastrosa.

Devemos considerar ainda a diversidade de comportamentos humanos, e à peculiaridade de cada um em perceber e seguir alguns conceitos. Não existe uma verdade absoluta no universo, e no BDSM não seria diferente, então, o que é fetiche pra mim pode ser abominável a você, o que é consensual pra mim, pode lhe paracer absurdo. Nenhuma interpretação é certa ou errada. É muito comum, por exemplo, praticantes tentarem explicar aos baunilha que tudo o que vivem é SSC (são, seguro e consensual), mas, no entanto, se este mesmo praticante for adepto de práticas mais pesadas, como branding, por exemplo, deve considerar que não há segurança, e sim, presunção do risco. O que temos, de fato em comum a todas as bases é o conceito de consensualidade, que difere o BDSM de violência pura e simples.

Contudo, o conceito de consensualidade pode, ainda, ter diversas interpretações, devido à sua subjetividade. Portanto, faz-se necessário definir os princípios que norteiem os praticantes e suas relações interpessoais. Esses príncípios são conhecidos como BASES DO BDSM, a saber:

SSC (Sane, safe and consensual)
A base mais conhecida do BDSM, criada por David Stein na década de 80, na tentativa de dissociar a imagem dos BDSMers de comportamentos violentos, criminosos, doentios e abusivos, preconizados pela sociedade. É fundamentada nos pilares de sanidade, segurança e consensualidade). Partindo destes princípios, cada prática deve ser sã (realizada por indivíduos sadios mentalmente, que tenham bom senso e sensiblidade para aperceber-se do que está acontecendo), segura (com a prevenção e minimizaão dos riscos) e consensual (envolvendo a consensualidade dos envolvidos, por livre e espontânea vontade).

SSS (Sane, safe and sensual)
Significa são, seguro e sensual, abolindo o conceito de consensualidade do BDSM. A ideia de “sensualidade” diz respeito ao prazer mútuo, responsabilidade, cuidado e intimimidade entre os envolvidos nas práticas. O objetivo desta base é dar ao TOP mais liberdade, em contrapartida, aumentando sua responsabilidade sobre o bottom, significando uma sessão onde são observadas rigorosamente a integridade física e emocional do bottom, com mais autonomia do TOP.

CCC (committed, compassionate and consensual)
Esta é uma base recente, e geralmente relativa em relacionamentos TPE (total power exchange, ou troca total de poder), atribuindo ao TOP a completa responsabilidade das práticas. Define-se por compromissado  o estabelecimento do acordo prévio que não pode ser ignorado, cm o estabelecimento de limites instransponiveis e a proibição do uso de safewords. Compassivo é tudo o que é relativo á saúde física  e mental do bottom e estão sujeitos à “compaixão”, por assim dizer, do TOP. E por fim, a consensualidade, estabelecida previamente e que compreende apenas a alteração, exclusão ou inclusão dos limites extremos no acordo.

RACK (risk aware consensual kink)
Como dito anteriormente, o conceito de segurança dentro do BDSM é bastante difuso e até mesmo inexistente em algumas práticas. Com o passar dos anos, e a partir da observação de que, mais importante que preconizar uma segurança que não pode ser garantida, é tentar minimizar os riscos que são potenciais causadores de dano, surgiu a base RACK, que significa Perversão (K) Consensual (C) e com Consciência dos Riscos (RA).
Entende-se por consciência de Riscos (RA) a informação e percepção de todos os envolvidos sobre as práticas a serem executadas. Consensualidade (C), como já visto, diz respeito ao acordo das partes e a perversão (K) como prática erótico-sexual alternativa.
No RACK não se faz necessário o uso de safewords, uma vez que todos estão conscientes dos riscos. Esta base é a segunda mais conhecida do BDSM e abrange práticas mais “hard”, de denotem maior perigo durante seu desenvolvimento.

RISSCK (Risks Informed, Safe, Sane and Consensual Kink)
A base RISSCK surgiu como uma interseção entre as bases SSC e RACK, agrupando em única base, os conceitos de risco conhecido e sanidade. Compreende o uso não obrigatório de safewords, e contempla práticas mais arriscadas que fogem ao conceito SSC. Assim, a tradução literal desta base é Perversão (K) Sã (S), Segura (S), Consensual (C) e com Riscos Informados (RI). É uma base pautada na avaliação minuciosa dos riscos, esmiuçando as técnicas e a competência daqueles que as praticam.

PRICK (Personal Responsability, Risks Informed and Consensual Kink)
Esta base é uma extensão da RACK, e diz respeito a responsabilidade individual de cada participante. Traduzida por significa Perversão (K) Consensual (C) com Riscos Informados (RI) e Responsabilidade Pessoal (PR), se contrapõe ao CCC, no momento em que transfere para o bottom toda a responsabilidade pela prática q está sendo submetido. Uma vez que os riscos são informados e consentidos, entende-se que o TOP é apenas o condutor, estando isento das responsabilidades.
Esta base tem o viés teórico-técnico do RISSCK E abragge uma gama de técnicas, das mais simples às mais elaboradas e perigosas, como o RACK.

PCRM (Prática Consensual com Riscos Minimizados)

Esta base repele o conceito de segurança, considerando que nenhuma prática é isenta de risco porém, estes podem ser minimizados. Não é suficiente a informação e o consentimento do risco, mas faz-se necessária uma intervenção de forma a minimizá-los. Se contrapõe so RISSCK e ao SSC / SSS, por admitir que ninguém é absolutamente qualificado para uma análise precisa de riscos ou ainda para classificar alguém como são ou adequado mentalmente para realisar determinada prática ou estabelecer uma relação D/s ou SM. Elimina ainda, o termo “kink”, por considerar a “perversão”um termo pejorativo.