domingo, 25 de outubro de 2015

A construção do submisso na visão do dominador



Quando decidimos criar o Castelo BDSM, a minha primeira ideia de artigo foi “a 

construção do submisso pela visão do dominador”. Ideia prontamente aceita e 

compartilhada pelos TOPs e bottoms do grupo, com a promessa de que Letty e Tha 

escreveriam sobre o despertar do TOP pela visão submissa. 


Meses se passaram, outros artigos vieram, e este, tão importante, tão sentimental, tão 

porta aberta não saía… Até q as meninas resolveram dar uma chacoalhada e 

escreveram o delas, o que deixou esta dominadora que vos fala em maus lençóis 

Não me restou outra saída a não ser deixar o chicote de lado e sentar à frente do 

computador pra expor a minha visão, a minha experiência sobre a construção de um 

submisso. Sobre tudo o que faz dele importante pra mim como pessoa e essencial pra 

mim como dominante.


Nestes vinte e um anos como dominadora, já tive submissos dos mais diversos. Dos 

mais masoquistas aos mais soft, passando por aqueles q nunca foram, mas que 

tentaram. Pra se satisfazer ou pra me satisfazer. E em todos eles, com mais ou menos 

tempo, eu vi o mesmo olhar, os mesmos gestos. Ouvi os mesmos gemidos, os mesmos 

sussurros. Vi algumas lágrimas caírem, vi outros chorando de soluçar, como uma 

criança, agarrados às minhas pernas com a cabeça encostada nos meus joelhos. Vi 

homens se tornarem meninos, vi meninos se tornarem meninas, vi gente marrenta e 

abusada pedir perdão encolhido, em posição fetal, assim como vi pessoas pacíficas 

levantarem os nariz pra mim, e dizer “não vou fazer” (mas, no fim das contas, fizeram).

Tenho em mim que a submissão, assim como a dominação, nasce com a gente. Em 

detrimento daquele papo de “submisso de alma”, que um dia foi uma expressão séria, 

mas de tanto mau uso acabou virando piada, é algo que está dentro de cada um, e nos 

cabe desenvolver ou sublimar. Mas no momento em que decidimos desenvolver isso, é 

um gatilho disparado que nunca mais deixará de ecoar.


Ver desabrochar um submisso é das coisas mais lindas da vida. Não é nada, 

absolutamente nada fácil, numa sociedade machista e patriarcal, um homem ceder o 

controle a uma mulher. Baixar a cabeça, os olhos, dobrar-se a ela. É muito mais que 

dizer “sim, senhora”. É dar-se, inteiro e despido, de roupas e pudores, àquela q vai 

comandar uma cena, uma sessão, ou a vida dele.


Homens naturalmente submissos talvez entrem na atmosfera de submissão com mais 

facilidade. Mas ainda assim, existe uma certa resistência, porque ao contrário do que 

acontece numa relação baunilha, não é apenas obedecer, ou ter suas vontades 

ignoradas pela parceira. Numa relação D/s existe a obediência, óbvio, mas o que leva a 

ela é algo muito maior. É a entrega, a confiança, a devoção.


Ver o submisso de joelhos, dobrado com um olhar meu, desperta sensações diversas, 

intensas, marcantes… É o meu poder sobre ele, fui eu quem fiz aquilo acontecer. 

Retribuo. Deixo que percebam o quanto sou grata por isso. Olho nos olhos, para que 

vejam que o que eu quero foi o que eles vieram buscar. E no fim das contas é 

exatamente isso. Uns vêm pela dor, outros pela degradação, alguns pela dependência. 

Mas todos, absolutamente todos, vêm a mim pelos seus prazeres. 


Em muitos olhos eu vi amor, paixão, tesão… Em outros, vi angústia, desespero e raiva. 

E todos, sem exceção, fizeram os meus brilharem. É engraçado como alguns 

comportamentos sofrem metamorfoses depois da porta fechada. Se colocar de joelhos 

incomoda, mesmo aos mais submissos. Alguns o fazem instintivamente, outros 

precisam de um estímulo maior. Mas quando percebem o quão importante é esse ato, 

a coisa começa a fluir com mais facilidade.


Pra alguns dos submissos que já tive, servir foi, por muito tempo, uma coisa 

angustiante e tortuosa. E aos poucos, com carinho, atenção, firmeza, mostrando passo 

a passo desse ritual, a importância desses pequenos gestos, eu vi nascer o submisso. O 

homem que outrora relutava em dobrar-se, naquele momento já deitava aos meus pés 

e dizia “faça o que quiser, minha senhora”. Mas chegar a esse ponto é uma tarefa 

árdua, pq vem imbuída de muita, muita confiança. É abrir mão do que se é, do que se 

acredita, do que se quer ou não quer fazer, em prol de alguém que vai conduzir o seu 

corpo, suas emoções dali por diante.


O momento mais sublime pra um dominante é ver o seu submisso abrir mão do que 

não quer. Deixar de fazer ou receber algo que gosta é infinitamente mais fácil que 

suportar (e aqui defino suportar como ter prazer, gostar, gozar com) algo que não 

gosta. Todo início de relação D/s ou SM é permeado por uma negociação acerca dos 

limites, principalmente do bottom, mas também do TOP. É preciso que o dominante 

informe ao submisso o que não pratica, pra não gerar expectativas vãs. E quando os 

meus submissos me expuseram, ao longo de todo esse tempo, os seus limites, sempre 

ouviram de mim a seguinte afirmativa: “Uma coisa é eu não fazer porque você não 

quer. Agora, se eu vou levar você a querer isso, é outra, bem diferente.”


Sim, os submissos são manipuláveis. Especialmente quando se dispoem a fazer as 

nossas vontades… é tudo uma questão de saber moldar, de saber tocar no ponto 

certo, de saber explorar cada fraqueza. Quando o dominante consegue perceber essas 

nuances (não que seja fácil), tem em suas mãos o brinquedo preferido. O que vai 

aceitar, com reverência, todas as suas vontades. O que vai ter prazer, muitas vezes, 

apenas em agradar, mesmo sem ser agradado. O que vai tornar o dominante o centro 

do seu universo, e viver pra ele, e por ele.


Muitas vezes, é questão de saber recuar. Quantas, incontáveis vezes eu abri mão de 

uma coisa que queria muito pra poder colher os frutos desta confiança, revertido em 

entrega total e irrestrita lá na frente… Quantas vezes precisei colocar no colo e dizer  

“tô aqui com você”, pra me tornar absolutamente necessária tempos depois. E 

quantas vezes me diverti, quando fingia que não percebia o submisso querendo jogar 

comigo, dizendo não quando na verdade queria dizer “sim, eu imploro”.


São meus brinquedos prediletos, confesso. Adoro ouvir aquele “minha senhora”, vindo 

de dentro, das entranhas. Quero-os inteiros pra mim. Quero o corpo pra brincar, mas 

quero muito mais que isso. Quero tudo, quero a respiração deles no ritmo da minha. 

Quero que se reconheçam como parte de mim, e que isso seja, pra eles, a coisa mais 

importante do mundo.


Por mais que eu escreva páginas e mais páginas, acho que jamais conseguirei explicar a 

beleza (e muitas vezes a dor) do nascimento de um submisso. Tenho milhares, milhões 

de lembranças pra exemplificar o que seria esse “desabrochar”. Mas vou terminar aqui 

com a mais recente, e uma das mais bonitas, que foi ouvir, do meu atual submisso, 

depois de me assistir numa prática que é limite pra ele, as seguintes palavras “a 

senhora pode tudo o que quiser, porque eu confio em você, e te amo”. 


Se foi fácil pra ele dizer isso, tenho certeza de que não. Mas mais difícil ainda foi ele 

SENTIR isso. Sentir que estava acontecendo exatamente o que eu disse que 

aconteceria, e ouvir a minha voz ecoando dentro dele: “eu vou levar você a querer 

isso”. E nesse momento, embora ele já fosse meu há muito tempo, eu pude olhar nos 

olhos dele e dizer, com toda certeza “nasceu o meu submisso.”

7 comentários:

  1. Esse é um dos melhores texto que eu já vi. Um dia espero ser dominado assim, não só o corpo mas a mente.
    O SM faz a gente se despir e não é a roupa, é algo mais.

    Bruno Sub

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Bruno. E desculpe responder tardiamente, pois não vi seu post. Espero que continue seguindo e curtindo o blog. Seja sempre bem vindo.

      Excluir
    2. Obrigada, Bruno. E desculpe responder tardiamente, pois não vi seu post. Espero que continue seguindo e curtindo o blog. Seja sempre bem vindo.

      Excluir
  2. Olá SRA., Maravilhoso o Texto de Uma RAINHA tão MARAVILHOSA como a SRA.!!! Quem sabe um dia poderei Servi-lá, ser DOMINADO e USADO pela SRA., para o Seu Bel Prazer.!!!

    ResponderExcluir
  3. E a SRA., me conhece, pouco mas conhece. sub rob

    ResponderExcluir