terça-feira, 2 de março de 2021

LET IT BLEED!!!

 "And in my world of temptation
I will wait for you
I'll show you all the pleasures
There's so much we can do
Don't be afraid my darling
Let me be your guiding light
Don't be afraid my darling
There's no reason for you to hide..."

(Bloody Pleasures - Blutengel)


O convite para escrever um textinho curto sobre Needle Play foi o estímulo que faltava pra eu escrever esse texto que está há anos guardado na minha gavetinha imaginária...

Se tem um substantivo que quase 100% das pessoas que me conhecem, atribuem a mim, é SANGUE. Domme Vampira, Rainha Sangrenta, essas são algumas das alcunhas mais musicais pelas quais sou chamada. E o motivo, é óbvio: A minha paixão por sangue.

Nesse post, eu quero trazer você pra um bate papo sobre as dores e as delícias de ter um fetiche tão marginalizado, ao menos, da forma que eu conheço. Visceral, repulsivo.  Não quero falar do sangue que escapa da bunda quando uma sessão de impact play se prolonga. O papo aqui é sobre FAZER SANGRAR. Isso é blood play: práticas que têm como objetivo, fazer sangrar DELIBERADAMENTEQuero falar um pouco sobre as técnicas que envolvem as diversas práticas que compõem esses chamados "jogos de sangue" e os protocolos que podemos utilizar pra torná-los mais "seguros" e prazerosos.

Mas, antes, permita-me te apresentar o meu mundo, e como foi que eu cheguei até aqui...


Capítulo 1 - O batismo de sangue

Em 1993, um filme estrelado pela Madonna explodiu em popularidade e escândalo, devido ao seu teor nada convencional. Em se tratando de Madonna, era de se esperar que viesse atrelado à muita polêmica, mas o tema era sensível demais mesmo à sociedade dos Anos 90, conhecida pelo politicamente incorreto: SADOMASOQUISMO.

Corpo em evidência (Body of evidence) fala sobre a relação sadomasoquista entre uma mulher acusada de assassinato e seu advogado. Se ela é inocente ou culpada, você só vai saber se assistir. Porém, essa cena aqui abaixo, é o início da minha história com o blood fetish.

Após quebrar uma das lâmpadas do estacionamento, Rebecca (Madonna), faz o advogado (Willem Dafoe) deitar sobre os cacos de vidro. Na visão de uma menina de 18 anos, o que poderia ser, em primeiro momento, repulsivo, se tornou úmido e latejante e culminou no meu primeiro orgasmo sem nenhum toque. Nenhum estímulo, além do visual, me fez escorregar no sofá, ofegante e perplexa, com o que tinha acabado de acontecer. 

Naquele momento, imersa numa espécie de transe, nascia a Morgana Vampira. Foi ali, no meu sofá, sozinha e diante da TV, que eu gozei e senti o cheiro e o gosto de um sangue que eu não podia tocar, mas eu sabia que até que as estrelas se alinhassem, e eu pudesse provar de verdade, eu iria permanecer com a sensação de que "tá faltando alguma coisa".



Algum tempo depois eu assisti a uma cena de cutting e quando eu vi o sangue escorrer, todos os meus sentidos se aguçaram de uma maneira que eu nunca tinha sentido. Como os animais da noite, como os filhos de Dracula. Não e à toa que me refiro ao Conde Tepes como "meu pai". Foi ali que eu coloquei a boca sobre cada um daqueles filetes, e me vi chapada de sobriedade. Os sons eram mais nítidos, os cheiros, inconfundíveis. O doce e inebriante aroma de ferro invadindo o ambiente, o gosto metálico na minha boca. Espasmos. Soluços. Gozo e choro, ali, amarrados um ao outro. Desse dia em diante sempre que possível eu bebia sangue. Anos 90, epidemia de HIV/AIDS bombando mundo afora e eu ali, curtindo as minhas vampirices como se não houvesse amanhã (e hoje, como pesquisadora na área de doenças infecciosas, eu vou dar a vocês vários motivos pra NÃO FAZEREM ISSO! Mas, isso é outro capítulo).

Chegaram os anos 2000 e com eles, Sistinas (https://sistinas.com.br/). A cidade dos vampiros eróticos, cujas ruas desertas e soturnas, sempre abrigaram freiras lascivas e seus amantes, os seres mais sedutores que a mente humana já criou. Vampiros por toda parte, com seus arroubos de um tesão agressivo, doloroso, cheiro de sexo, os cabarés, as esquinas dos encontros furtivos, as torres das catedrais sendo guardadas por mil demônios. Era ali que eu queria estar. Era dali que eu fazia parte. Foi por todas as ruas de Sistinas que eu caminhei noites a fio. Foi a Sodoma dos Vampiros me ajudou muito a construir a sensualidade e o magnetismo de alguém cuja história se mistura em vários tons escarlate. 

Num piscar de olhos, estamos aqui, mais de vinte anos depois. Hoje, tenho algumas play partners que me dão a honra de provar seu sangue nas nossas cenas de cutting, needle e spanking. E é sobre esses espetáculos de prazer e dor que eu vou falar daqui pra frente.


Capítulo 2 -  O que é Blood Play?

Como eu já disse lá no início, Blood play são práticas que têm o objetivo de fazer sangrar deliberadamente. A sua base é a violação da pele e o surgimento do sangue. Nós sabemos que durante o impact play, dependendo do artefato usado e do tempo de duração, é bastante comum a ruptura da pele e o sangramento. Porém, nessas situações, podemos dizer que o ato de sangrar é uma CONSEQUÊNCIA, e não A CAUSA. 

Algumas técnicas são bem conhecidas no contexto do Blood Play, como o Needle play (jogos com agulhas e objetos perfurantes, como piercings), o Cutting play (jogos com objetos cortantes, como bisturis), o impact play com perfurocortantes (spikes e pequenas lâminas adaptadas nas pontas dos floggers ou mesmo a confecção de um "flogger" de arame farpado e, claro, o meu amado ralador, que tive o prazer de ser uma das pioneiras da técnica (e sempre que posso promovo banhos de sangue dignos de filmes do Tarantino) e Scarification (difere em alguns aspectos técnicos do cutting) e eu vou abordá-los mais adiante. 


Capítulo 3 - Segurança

Em primeiríssimo lugar, é preciso ter em mente que práticas que envolvem fluidos corporais, especialmente sangue, são consideradas EDGE PLAY, tanto pelos riscos físicos quanto pelos riscos emocionais. Aqui eu vou abordar os aspectos de minimização de riscos FÍSICOS comuns à todas as práticas de blood play.

Antes da gente passar pras "exigências laboratoriais", é preciso fazer uma boa anamnese do bottom. Pessoas da área de saúde costumam ter facilidade com essas questões, por força da profissão, mas não é um bicho de sete cabeças pra quem não é da área. É importante saber o histórico clínico de quem vai sangrar, e abaixo estão alguns pontos chave a serem considerados:

  • Diabetes - diabéticos podem ter maiores dificuldades de cicatrização e são mais pré-dispostos à infecções
  • Anemia ou qualquer outra condição sanguínea crítica - Incapacidade de coagulação, como hemofilia, prejudica o estancamento de uma possível hemorragia. Sendo assim, essas pessoas não estão no grupo daqueles que podem praticar blood play
  • Portadores de Hepatites, HIV ou demais infecções transmitidas pelo contato com fluidos corporais - Por motivos óbvios.
Identificados e eliminados os fatores de risco, é hora dos exames. Eu, particularmente, peço a todas as pessoas que vão praticar blood play comigo, que me apresentem exames de glicemia, hemograma e testes não reativos para IST's. Essa é uma condição imprescindível para que eu possa praticar.

Cortes, furos, feridas de forma geral, podem virar focos de infecção. Portanto, são necessárias algumas medidas para minimizar essa possibilidade, como o uso de equipamentos de proteção.

As luvas, idealmente estéreis, são indispensáveis. Uma vez calçadas as luvas, o Top vai iniciar a assepsia do local, com algodão ou gaze ESTÉRIL, embebidos em álcool 70º ou degermante hospitalar (clorexidina) . Agulhas e lâminas devem ser ESTÉREIS e DESCARTÁVEIS, demais artefatos, idealmente esterilizados em estufa ou, ao menos, embebidos em álcool.

Após a cena, nova assepsia do local deve ser feita, agora, suplementada pelo uso de água oxigenada. Pomadas cicatrizantes e compressas frias podem ser bons aliados.

Muitos praticantes usam máscaras e óculos de proteção, e eu concordo que esse é o ideal. Porém, no meu caso, eu dispenso esse tipo de equipamento de proteção pois parte do meu fetiche está justamente em "sentir" o sangue.

Locais altamente vascularizados como genitais, e/ou com enervações, como as partes posteriores dos joelhos, anteriores dos cotovelos e virilha, são zonas proibidas, devido ao risco de danos sérios causados por uma prática mal executada. O risco de MORTE é real na prática de cutting em regiões de grandes artérias (virilha, pescoço). O rosto também deve ser evitado, especialmente a região próxima aos olhos pelo risco, óbvio, de lesão ocular. Coxas, bumbum, seios (eu prefiro evitar needle nos mamilos devido ao risco de mastite), braços, abdome, são locais permitidos e muito prazerosos!


Vermelho: PROIBIDO; Amarelo: MUITA ATENÇÃO; Verde: OBAAAAAA, Tá liberado!!!

 
Outras medidas de segurança indispensáveis: 

  • Interação constante com o bottom, para que desconfortos, dores e angustias que não façam parte da cena sejam evitados. Não esqueça que ansiedade e medo podem vir à tona durante essas práticas. Cheque palidez, batimentos cardíacos, suor frio e demais indicadores de desmaio;
  • Acomodar o bottom em local confortável e bem iluminado. O Top precisa enxergar bem o que vai fazer;
  • Organizar o espaço, especialmente se a cena for pública. Delimite um "espaço de cena" para evitar esbarrões e acidentes;
  • Utilizar lona ou plástico para forrar o local. Dependendo da quantidade de sangue, acredite... você vai ter um trabalho ingrato pra limpar;
  • Conselho pro TOP: Esteja SEGURO e CONSCIENTE do que você vai fazer. Não faça porque "todo mundo faz", "porque é muito foda fazer sangrar" e bla-blá-blá. Faça porque você tem TESÃO em fazer e SABE o que tá fazendo. Se não souber, procure ajuda de quem sabe.


Capítulo 4 - Deixa de enrolação e fala logo sobre as práticas!!!

Needle Play - Consiste no uso de agulhas hipodérmicas (abaixo da pele), são utilizadas para perfurar a pele do bottom. Essas agulhas podem ser encontradas em diversos calibres diferentes, e quanto menor o calibre (G - "gauge), maior o diâmetro, como você pode ver na tabelinha a seguir:

Eu costumo utilizar as agulhas com calibres entre 20-23G, porém, isso vai depender, obviamente, da resistência do bottom à dor, da integridade de sua pele, e da "arte" que o Top quer desenvolver. Abaixo, três bottoms diferentes, a primeira, iniciante, na qual utilizei agulhas 22G, mais curtas e finas. Na segunda, uma bottom experiente que suporta com tranquilidade agulhas 21G. Na terceira e quarta, uma bottom com a pele mais "grossa" e que, devido à necessidade de ancorar as penas, me permitiu o uso de agulhas 18G.



Fotos: Lucas Gibson e Morgana

Antes de iniciar a prática, cabe ao Top organizar a sua cena para que tudo ocorra da forma mais segura possível. É necessário um recipiente de descarte das agulhas, idealmente uma descarpack (Caixinha amarela de papelão própria para descarte de perfurocortante). Caso não seja possível, a boa e velha garrafa PET cumpre o papel.

Deve ser realizada a assepsia da pele do bottom com álcool 70º ou desinfetante hospitalar à base de clorexidina. Em seguida, deve ser observada a posição da perfuração. 
Needle é praticado na camada mais externa da pele, a epiderme. Por essa razão, o ângulo de penetração da agulha é, NO MÁXIMO, de 15º (seta). Na verdade, quando nós "pinçamos" a pele, a agulha fica praticamente paralela à prega. Lembre-se que, em caso de penetração mais profunda e no ângulo incorreto, o risco de atingir vasos sanguíneos (retângulo) é real e por essa razão existem alguns lugares "proibidos" às perfurações.

É importante lembrar que,  no caso de agulhas de maior calibre, o bisel deve estar SEMPRE para cima, pra evitar que a tensão da pele exerça pressão sobre a agulha e a expulse, fazendo com que 1) a pele rasgue; 2) a agulha transpasse a pele do bottom e perfure o dedo do Top, aumentando exponencialmente o risco de transmissão de infecções (círculos vermelhos). Para agulhas mais finas a posição do bisel é irrelevante, porém, EU prefiro posicionar para baixo.





Para remover corretamente a agulha, a pele deve ser novamente pinçada, caso esse método tenha sido utilizado para a perfuração, evitando acidentes provocados pela tensão do tecido. A agulha deve ser retirada em movimentos rápidos e firmes, e em seguida, deve ser feita nova assepsia do local.

Uma vez que a agulha esteja na pele do bottom, o Top pode provocar diversas sensações. Girar e apertar a agulha pode causar sensações intensas de dor, prazer, medo... Isso vai ficar a cargo dos envolvidos e de que tipo de jogo eles preferem jogar. Perfurar dois locais e uni-los com fita, coloca na roda o espectro BD (Bondage e Disciplina) e pode ser usado em treinamentos aliados ao Fear Play.


Cutting play - Cutting nada mais é que cortar. Podem ser cortes pequenos, grandes, sem forma ou desenhos, mas o mais importante a saber é COMO e ONDE cortar. 

O instrumento mais adequado para a prática de cutting é o bisturi cirúrgico. Facas afiadas e lâminas do tipo "gilete", podem ser utilizadas. No entanto, estiletes, devido à sua instabilidade devem ser evitados para garantir a regularidade dos cortes.

O bisturi possui diversos tipos de laminas, próprias para cada tipo de cabo 3 ou 4, (proporcional ao tamanho das lâminas). É importante saber essas diferenças, pois existem lâminas designadas para grandes incisões, cortes de músculos, de tecidos moles e tudo isso interfere na mobilidade e segurança do corte. Laminas para corte de pele são curvas, entre os números 20-24 (Eu prefiro a 23). Para desenhos mais delicados, recomendo o uso de lâmina 15 em cabo 3.



A forma padrão de segurar o bisturi é com o dedo indicador sobre a porção dorsal da lâmina. Dessa forma, podemos controlar a pressão sobre a pele que é um tecido mais duro.



Pessoas mais experientes no uso desse instrumento podem arriscar fazer alguns desenhos. Basta utilizar lâminas menores, como mostrado acima e segurar o bisturi como um lápis, o que permite a sua manipulação sem usar o pulso. Assim, podemos fazer incisões delicadas sem pressão sobre o tecido.



Como nas perfurações, os cortes são superficiais e atingem apenas as camadas superficiais da pele. Eu classifico o risco de dano, ao fazer cutting, muito MAIOR que na prática de needle, então, todos os cuidados com a segurança devem ser redobrados. Vale reforçar o risco de MORTE REAL no caso de cortar mais profundamente e atingir uma veia de grande porte ou artéria (parte interna da coxa e braços, virilha, pescoço, pulsos).

Áreas muito vascularizadas devem ser evitadas por iniciantes, porque o próprio volume de sangue pode atrapalhar a visualização do corte. O ideal é praticar em áreas com gordura e músculos, e nesse quesito, as nádegas são o padrão ouro.  O primeiro corte deve ser o mais superficial e suave possível, para que possamos "sentir" o tecido. Quanto mais superficial, mais fácil a cicatrização, e aqui, é importante lembrar que pessoas com tendências à queloide devem evitar esse tipo de prática. Cortes sobre cortes devem ser evitados. O risco de cortar mais fundo um local que já está lesionado é grande e aumenta a possibilidade de infecções. 
Fotos: Lucas Gibson

Durante e pós sessão, é preciso se certificar que o sangramento foi controlado. Aplique gaze estéril (se necessário, faça uma compressa fria) e limpe com álcool ou solução degermante. Como parte de um aftercare bem feito, esse ferimento deve ser periodicamente acompanhado até completa cicatrização.

Duas coisas importantes sobre o aftercare pós cutting: Não é incomum que os bottoms tenham sensação de desmaio. Além de toda a adrenalina da sessão, algumas pessoas são realmente sensíveis à menor perda de sangue, ou mesmo, à simples visão do sangue escorrendo. E, por falar em adrenalina, manter um cobertor por perto é uma boa pedida, já que algumas pessoas podem ter picos de frio intenso devido à descarga desse neurotransmissor. Não descuide da hidratação, e espero ao menos uns 15 minutos pra movimentar a pessoa.

Uma "variação" do cutting é a escarificação (Scarification). Essa técnica, comumente vista em processos de modificação corporal, combina cortes em camadas mais profundas, raspagem da pele, abrasão e queimaduras (branding/burning). Como não sou adepta da prática, prefiro pular as especificações técnicas e deixar pra quem sabe 😉

Nota mental: não tem nada mais gostoso que elevar o cutting a uma categoria de fear play. Passar o parte cega da lâmina pelo corpo do bottom vendado, pode promover sensações indescritíveis. Ele não vai saber se está sendo cortado, se será cortado, o quanto será cortado. É uma experiência de entrega e confiança total no Top.


Impact play com objeto perfurocortantendente - Floggers com spikes nas pontas, floggers de arame farpado e o meu queridinho, o RALADORRRRR!!!!!! A imaginação é sem limites quando se trata de utilizar objetos que, no dia a dia, não têm nada a ver com sadomasoquismo, e que se tornam verdadeiras obras de arte quando bem utilizadas.

Vou falar rapidamente da "técnica" do ralador, que é algo simples mas que os anos de prática já me deram alguma "manha". Os melhores raladores são aqueles de quatro lados (os que têm ralo fino, grosso, fatiador), porque dão mais estabilidade que os raladores simples (aqueles curvados que só têm o lado fino pra "ralar coco"). 

Quando for bater, atenção à posição das mãos. Segure pela haste e faça movimentos ritmados com o punho, evitando mexer demais os braços. Isso vai cansar e pode fazer com que o bottom seja cortado por acidente, caso o lado do "fatiador" seja aplicado sobre a pele. 

Se você for um Top como eu que fica inebriado por sangue, pode se preparar pra machucar as suas mãos e nem se dar conta. Com o impacto, o ralador vai literalmente se desmanchando nas mãos e o fato dele se soltar das hastes pode machucar. Então, atenção redobrada!

Use uma lona ou plástico pra forrar o chão, cobrir paredes, e todos os lugares que você não quer que fique literalmente lavados de sangue. Por menos que o bottom sangre, a quantidade de sangue num spanking com ralador é absurda (pode comprovar abaixo e essas fotos não foram tiradas nem na metade da play).



Fotos: Lucas Gibson

Minhas play partners relatam pouca dor, apesar do espetáculo visual sugerir dor intensa. Todas me disseram que arde, e que a região fica quente e levemente dolorida nos dias seguintes. Isso faz parte do processo inflamatório e em pouco tempo já está solucionado. Eu recomendo, como já dito anteriormente, a aplicação de compressa fria e uma pomada cicatrizante. No mais, é só diversão.

Todas as fotos mostradas aqui, estampam momentos de muita felicidade, gozo e diversão. Por trás de cada uma dessas cenas, houve muita negociação, bate papo, explicações técnicas, exames médicos e, sobretudo, CONSENTIMENTO. Blood play, como qualquer outra prática nesse vasto mundo do BDSM, tem como premissa, a consensualidade.

Beijos da vampira

domingo, 20 de dezembro de 2020

Olha a chuuuva!!! É mentiraaaa!!! (ou, o que você precisa saber sobre chuvas de prata, dourada, vermelha, marrom e romana)

Lá nos idos de 2015 eu fiz um post sobre Segurança e BDSM (quem quiser ler, é só clicar aqui (https://perfumedemorgana.blogspot.com/2015/10/seguranca-x-bdsm-seguranca-e-um-dos.html?zx=e18e1c51b0f5f382). Nesse post, falando pros iniciantes, abordei de forma bem superficial, os aspectos de segurança nas práticas com excreções. No entanto, como pesquisadora e profissional da área de saúde, creio que o momento crítico em termos de saúde global pelo qual estamos passando, merece um "review" e conscientização com as práticas que envolvem artigos críticos potencialmente transmissores de doenças.

Não é simples nem fácil falar sobre fetiches tão polêmicos quanto as chuvas. Pra maioria de nós, as  chuvas prateada e dourada certamente denotam humilhação, porém, uma vez expostas em vários filmes e novelas, de certa forma, acabaram sendo "naturalizadas". No entanto, falar sobre chuva marrom (scat) e a chuva romana (puke) é algo que remete imediatamente a asco, nojo e repulsa. Num grau de repulsa um pouco mais "discreto", mas não livre de julgamentos ou, no mínimo, bastante estranhamento, temos a chuva de rubi, relacionada à ingestão de sangue menstrual, muito mais ligada ao fetiche de humilhar do que de ser humilhado, ao contrário das chuvas anteriores, em especial a marrom. Talvez, por todas as questões que permeiam esses fetiches, seja muito raro um bom material sobre esse tipo de prática. É difícil encontrar textos que abordem os aspectos psicológicos, o fetiche imensurável pela humilhação e degradação que levam alguém a se excitar apenas pela expectativa de ser cuspido ou ingerir urina, fezes e vômito. 

O objetivo desse post não é falar sobre o que tá por trás do fetiche, e sim, abordar a questão da segurança na execução dessas práticas, uma vez que (espero eu) todos nós concordamos que nosso objetivo no BDSM é satisfação erótica e não adoecer. Então, eu vou tentar esmiuçar aqui cada uma das chuvas e abordar os potenciais riscos relacionados a cada uma delas.

CHUVA DE PRATA



"Chuva de prata que cai sem parar.."

É bem verdade que a chuva de prata não diz respeito exclusivamente à prática de "spitting" (cuspir). A chuva prateada envolve a ingestão dos produtos do gozo feminino e masculino, ou ainda ao ato de ejacular sobre o corpo do (a) parceiro (a).  Se refere também, ao ato de forçar alguém a lamber suor (Curiosidade: o fetiche por suor, fora do contexto de dominação e submissão, chama-se SALIROFILIA, do latim, afinidade por fluidos orgânicos salgados).

Cuspir ou ordenar que alguém lamba seu suor é algo diretamente ligado à dominação e ao fetiche por humilhação, no entanto, a ejaculação no corpo ou na boca, apesar de humilhante para alguns, é associado, por muitas pessoas, à recompensas. 

Existem pouquíssimos estudos que relacionam o suor à transmissão de doenças. Em 2003, o CDC (Center for Diseases Control - EUA) lançou um guia para controle de infecção na prática odontológica e considerou que todos os fluídos corporais, EXCETO o suor, seriam potenciais transmissores de hepatite B. No entanto, em 2007, um estudo publicado no British Journal of Sports Medicine, em 2007, descreveu a presença de DNA do vírus da Hepatite B no suor de atletas olímpicos, sugerindo que sua transmissão poderia ser veiculada pelo suor. 

Com a saliva, não temos sombra de dúvida: Ela é potencial transmissor de diversas doenças, incluindo a temida COVID-19, transmitida pelo contato com suas gotículas.  Portanto, NÃO EXISTE nível seguro pra prática de spitting envolvendo parceiros ocasionais,  em épocas de coronavírus. Além da COVID-19, a saliva pode carrear diversos microrganismos, em sua maioria, vírus, porém aqui há que ser feita uma distinção entre as doenças transmitidas pela saliva, daquelas transmitidas pelo beijo.

Diversos vírus albergados na boca, garganta e nariz podem ser transmitidos pela dispersão de gotículas de saliva e é aqui que mora o perigo. No momento que uma pessoa infectada cospe no rosto de alguém, essa saliva vai se dispersar pela boca, nariz e eventualmente na mucosa ocular. Isso oferece um alto risco de infecção por outros vírus da família do coronavírus, alguns rinovírus e os vírus da gripe, ou ainda bactérias que podem causar doenças graves, como tuberculose. Já com relação à transmissão pelo contato direto com mucosa oral, durante o beijo, temos uma infinidade de vírus que provocam herpes, hepatites, mononucleose, e a conhecidíssima candidíase, doença fúngica também transmitida pelo sexo oral.

Por falar em sexo oral, são diversas as infecções transmitidas pelo contato oral-genital. No entanto,  não há relatos de transmissão de doenças pelo contato da pele íntegra com esperma ou líquidos vaginais. Então, a chuva prateada que envolve a ejaculação sobre o corpo do bottom tá mais do que liberada!


CHUVA DOURADA




Creio que, de todas as chuvas, a famosa "Golden shower" popularizada por um certo governante, é a mais comumente difundida em filmes, mesmo os que não são considerados pornô propriamente ditos. Cenas de chuva dourada já foram vistas em "Bruna Surfistinha", na série "Sex and the city" e na série da Netflix de 2019, essa sim, com a temática fetichista, "Amizade Dolorida".

A chuva dourada envolve o ato de urinar sobre alguém como prática de humilhação, ou ainda, a ingestão de urina por alguém com o fetiche em ser degradado. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a urina só é estéril na bexiga, ou seja, pode ser contaminada por agentes infecciosos presentes no trato urogenital. Isso significa que, caso o Top esteja doente, o risco de transmissão é alto, e não pode ser ignorado. A transmissão de citomegalovírus pela urina já foi relatada em diversos guidelines do CDC, e esse vírus está relacionada com infecções latentes que, assim como os vírus da herpes, não têm cura. O vírus da Zika também é comprovadamente transmitido pela urina.

No entanto, esse risco está diretamente ligado o contato da urina com fissuras e lesões na pele, e principalmente, com mucosas, como os olhos e a boca, que é um participante contumaz do fetiche, uma vez que na maioria dos casos, o bottom ingere a urina. O contato com a pele íntegra não oferece riscos de transmissão de qualquer doença. 

Além disso, é importante lembrar que a urina, embora composta primariamente de água, também tem em sua composição excretas altamente tóxicos, derivados de amônia, como ureia. Esses compostos foram filtrados da sua corrente sanguínea, processados nos rins e excretados porque seu corpo precisa se livrar deles. Sendo assim, não existe muito sentido do ponto de vista da saúde, em reabsorver esses excretas, porque isso vai forçar seus rins a processá-los novamente em concentrações ainda maiores. 

Portanto, a condição sine qua non para praticar chuva dourada com segurança é a ingestão generosa de ÁGUA! O top precisa ter esse cuidado, de jamais esquecer da sua preparação de cena, que inclui hidratar-se MUITO.


CHUVA VERMELHA OU CHUVA DE RUBI




A chuva de rubi ou vermelha é a prática que envolve o sexo oral durante a menstruação, e consequentemente, a ingestão do sangue menstrual. Assim como lamber suor pode ser considerada chuva prateada no contexto da humilhação, ou um fetiche dissociado de BDSM que recebe o nome de salirofilia, a chuva de rubi fora do BDSM é chamada de MENOFILIA.

Com relação aos riscos da prática, é preciso lembrar que o sangue menstrual carreia agentes infecciosos como HIV e vírus da Hepatite B, bem como bactérias causadoras de sífilis (Treponema pallidum). O contato do sangue menstrual com a pele íntegra (por exemplo, se a top quiser fazer o bottom de tapete, estando nua) não oferece risco, no entanto, em caso de lesões na pele ou contato com mucosas, não existem níveis seguros para a prática. 

Por fim, e não menos importante, não se deve esquecer que a ingestão do sangue DURANTE o sexo oral, oferece os mesmos riscos de contágio de qualquer IST (infecção sexualmente transmissível) transmitida pelo contato oral-genital.


CHUVA ROMANA (PUKE)




Assim como as demais chuvas, o fetiche por vômito no contexto de dominação e submissão, está diretamente ligado ao fetiche por humilhação e degradação erótica. Quando fora do contexto de BDSM, a excitação pode ocorrer apenas pela visão de alguém vomitando, ou mesmo durante a prática de "garganta profunda" durante o sexo oral e é chamada de EMETOFILIA. O nome "chuva romana" vem do hábito dos antigos romanos de vomitar durante as festas para abrir espaço para mais comida, como parte de um ciclo de compulsão e purgação.

Não há relatos de transmissão de doenças por meio da ingestão de vômito, porém, não é uma prática isenta de riscos. Episódios repetidos de vômito podem causar desde desidratação e desgaste dos dentes como quadros graves, como a Síndrome de Barret, que provoca uma mudança do epitélio do esôfago que pode evoluir para câncer. Além disso, há que se observar o risco de broncoaspiração do vômito, especialmente se aliado à prática de bondage e shibari, que podem levar o bottom ao sufocamento.



CHUVA MARROM (SCAT)



Aqui vamos nós para a mais polêmica de todas as chuvas. Não é pra menos, porque a nossa reação primitiva à presença de fezes é de repulsa. A coprofilia  é uma parafilia em que as pessoas se excitam ao assistir alguém defecar em outra pessoa, defecar em outra pessoa ou ainda receber as fezes sobre seu corpo ou boca. A ingestão de fezes, especificamente, é o que conhecemos como "scat" e também pode ser chamada de coprofagia.

Como falei lá no início desse texto, não pretendo abordar os aspectos psicológicos dos fetiches, embora esteja claro para mim que todos eles, e especialmente a chuva marrom, sejam ligados à humilhação extrema. Antes, meu objetivo aqui é falar das implicações fisiológicas e das consequências na saúde física dos praticantes desse tipo de prática.

Não é segredo pra nenhum de nós que existem incontáveis doenças que podem ser transmitidas por água contaminada pelas fezes. Basta lembrar dos conceitos de higiene aprendidos na escola quando éramos crianças: "Lave bem as mãos antes das refeições e não consuma alimentos crus", além  do clássico "frutas e verduras devem ser higienizadas antes de consumidas". Isso tem uma razão bem simples: a transmissão fecal-oral de diversos agentes infecciosos.

Agora, pensa comigo. Se tem risco na água contaminada com as fezes, qual o tamanho do risco ao INGERIR fezes?

O risco é enorme, meus amigos. A gente pode começar a lista com inúmeras verminoses, algumas bastante graves como esquistossomose, até hepatite A, cólera e diarreias infecciosas provocadas por bactérias como Samonella e vírus como Rotavírus. E acredite, a maioria dessas doenças é assintomática ou tem sintomas muito genéricos que a maioria das pessoas sequer pensaria neles como um quadro infeccioso.

"Então, Morgana, eu tenho esse fetiche e queria saber se dá pra praticar de forma segura". 

Dá pra minimizar o risco, parceiro! Como? Mais uma vez contando com a preparação de cena do Top, que vai precisar de um tempo pra colocar as coisas em ordem. Em primeiríssimo lugar, VACINA! Isso mesmo, vacina contra hepatite tem que estar em dia!!! Em segundo lugar, cuidar da saúde de forma geral. É recomendado estar vermifugado, e não se esqueça que a maioria desses medicamentos requer um ciclo de 14 dias pra fazer efeito. Então, se você tem esse fetiche, esteja precavido com relação a isso. 

Jamais descuide da alimentação. A higiene com seus alimentos vai se refletir na sua saúde e na saúde do seu partner. Entenda que a realização de um fetiche é uma via de mão dupla. Além disso, muitas pessoas que praticam scat tem predileção por odores, consistência e quantidade de fezes, portanto, uma dieta equilibrada é importante pra prática ser ainda mais prazerosa.

Por fim, e não menos importante, eu gostaria de lembrar a todos que, nesses tempos pandêmicos, é FUNDAMENTAL acreditar na ciência. No caso da COVID-19, a ciência diz que o vírus permanece vivo nas amostras fecais, ou seja, pode ser transmitido pelas fezes, como publicado nesse artigo aqui:



É isso. Não foi fácil escrever esse artigo, mas espero que possa auxiliar a todos a praticarem com mais segurança e consequentemente, ter mais prazer.

Beijos da Domme Má.


















 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Falando em BDSM raiz... A Cerimônia das Rosas

Esse texto está nos meus baús de memórias e projetos já há alguns anos. Mas, como “liturgia” parece ser um dos temas favoritas nas rodas de debate de BDSM, e que nunca sai de moda (talvez pela complexidade que permeia o termo liturgia), eu resolvi, finalmente, me render ao tema CERIMÔNIA DAS ROSAS”.

Quando comecei a pesquisar para escrever sobre esse rito, para além das minhas memórias (realizei essa cerimônia em 1996), qual foi a minha “nenhuma” surpresa ao ver que sites e blogs de fora e os daqui, são tão somente a cópia e cola de um mesmo texto. Aqui, pretendo trazer as minhas próprias reflexões sobre a cerimônia, que considero necessárias ao BDSM como um todo, e também uma “descrição” mais ou menos padronizada sobre a ritualística que acompanha esse momento.

A cerimônia das Rosas é um ritual puramente litúrgico dentro do BDSM. Bastante em desuso atualmente, e eu desconfio que seja um reflexo da modernidade líquida, em que os relacionamentos, dentro e fora do BDSM, não duram mais do que um orgasmo (às vezes, nenhum). Em linhas gerais, corresponde ao “casamento” no BDSM, que difere do casamento baunilha, em um aspecto principal: essa cerimônia é privada, geralmente conta apenas com o (a) Dominador (a) e a (o) submissa (o). Adaptações muito discretas, envolvem a presença de uns poucos (pouquíssimos, não mais que quatro) convidados, que geralmente são membros “importantes” da comunidade BDSM.

Por “importante”, entenda-se: Pessoas de reputação positiva, geralmente experientes (embora essa não seja uma condição sine qua non para uma reputação positiva), mestres, mentores... Obviamente que, no fim das contas, quem vai participar de um passo significativo na vida do “casal”, é aquela pessoa por ambos considerada (primeira nota mental dessa Domme que vos fala: “se relacionem com pessoas de reputação positiva, sempre”).

Se vamos falar sobre cerimônia das rosas, vamos falar, obrigatoriamente, sobre liturgia. E o que é essa tal liturgia, indispensável a uns, dispensável a outros, razão de deboche para muitos, confusão para tantos?

“Abre parênteses”.

Quando a gente abre o dicionário, dá de cara com essa definição: li·tur·gi·a, do grego leitourgía. Substantivo Feminino: 1 HIST Na Grécia antiga, serviço cívico ou religioso prestado pelos cidadãos mais abastados. 2 REL O conjunto dos elementos e práticas que constituem o culto religioso de qualquer instituição. 3 REL Conjunto de palavras e/ou gestos usados na realização de ofícios e sacramentos; rito. 4 REL Ramo das ciências eclesiásticas cujo objeto de estudo se concentra nas origens, no desenvolvimento e nas regras canônicas do culto católico. É preciso lembrar que, se você for procurar em qualquer fonte “gringa” o tema: LITURGIA E BDSM, não vai encontrar. Esse é um conceito tupiniquim, criado e patenteado por aqui, e que atualmente tem sido uma das maiores fontes de dissenso no BDSM.



O que nós chamamos de liturgia é tão somente o conjunto de ritos e protocolos de comportamento inerentes à cena BDSM. Querer nivelar por alto os praticantes de BDSM que seguem de forma mais “rígida” esses códigos, e desmerecer àqueles que não os incorporaram nas suas relações, é tão esdrúxulo quanto dizer que uma pessoa que se denomina “fetichista” tenha menos importância do que aqueles que se identificam como BDSMers. No entanto, a liturgia, a meu ver, ultrapassa esse conjunto de ritos. Para aqueles que entendem o seu conceito, e não querem apenas resumi-la ao hábito de se referir a um TOP como “caro nobre” ou a um bottom como “menino/menina” (segunda nota mental: essas formas de tratamento, na maioria das vezes são bastante caricatas. Especialmente se considerarmos alguns TOPS que não têm um pingo de confiabilidade, e de bottoms já “barbados” o suficiente pra ostentar a alcunha de “menino”), a liturgia é algo meio etéreo. Ela simplesmente “É”, e qualquer pessoa de bom senso consegue “sentir” a presença dessa “entidade”, e imediatamente a difere desse conjunto de bobagens que costuma ter o seu nome.

Terminada a minha dissertação muitíssimo an passant sobre liturgia, e, se chegamos aqui ao consenso que ela engloba um conjunto de ritos, vamos voltar ao tema dessa postagem. A cerimônia das rosas, para mim, representa mais do que um ritual. Eu a vejo como uma passagem significativa para outro nível, um upgrade na relação. Fortemente desaconselhada àquelas pessoas que preferem relacionamentos fugazes, efêmeros, a cerimônia carrega em si a característica de celebração de algo duradouro, estável, mais permanente do que o “que seja infinito enquanto dure”. É algo carregado de simbolismos, e cada um dos seus elementos pode ser interpretado como fragmentos de tudo que tem sido construído até aqui e do que se pretende continuar a construir.

A cerimônia geralmente dura uma noite e a manhã do dia seguinte, que é o momento da renovação dos votos proferidos na noite anterior. Daqui pra frente, usarei os termos “Dominadora” e “submisso”, pra dar um toque pessoal ao relato. A minha cerimônia das rosas teve um “celebrante”, portanto, a descreverei dessa forma, porém, a presença dessa pessoa e dos poucos convidados, como eu disse lá no terceiro parágrafo, é facultativa.

Elementos

A dominadora, segurando uma rosa vermelha em floração, quase totalmente aberta. A cor vermelha simboliza a paixão, o domínio, a proteção e floração incompleta significa que o dominante está maduro o suficiente para cuidar do submisso, porém, esse processo é contínuo e, daqui pra frente, a dois.


O submisso, de coleira e com seu botão de rosa branca. A cor branca simboliza a submissão, a entrega, a cessão de poder, o desejo de ser conduzido por aquela a quem aceitou como dominante. O botão, ainda fechado ou em mínima floração, simboliza, assim como para a dominadora, um processo contínuo de entrega e amadurecimento.




Eles se posicionam de frente um para o outro e a Dominadora tira a coleira do submisso, passando-a pela chama das velas, que podem estar na mão do celebrante ou sobre uma superfície, no caso da cerimônia privada. A devolução da coleira para o pescoço do submisso indica o compromisso da Dominadora de proteção.


Nesse momento, o submisso pica o dedo e deixa cair duas gotas de sangue sobre a sua rosa branca (originalmente essa picada era feita com um espinho da rosa, no entanto, por questões de segurança, evitem a transmissão de doenças graves, como a esporotricose: usem uma agulha estéril para esse procedimento). A dominadora também pica o seu dedo e deixa as gotas do seu sangue caírem por cima do sangue do submisso, reforçando que ela aceita a responsabilidade de protegê-lo “a qualquer custo”. Eles pressionam os dedos um contra o outro, como um “pacto de sangue”.


Nesse momento, o cerimonialista, ou pra quem prefere uma pegada mais baunilha, os “padrinhos” (testemunhas), pegam um pedaço de corrente de metal, passam pela chama e envolvem os punhos do casal (terceira nota mental: ESPEREM ESFRIAR). O significado da corrente nessa cerimônia vai além do óbvio, que é representar a união do casal. Ela representa todos os elos que foram ligados, um a um, durante o processo de amadurecimento e construção que os trouxe até aqui. A chama é o símbolo de uma união indelével, forjada no fogo. 




As rosas são trocadas (como se trocam as alianças) e o que se segue é a remoção da corrente, que é guardada e entregue ao casal. As rosas são depositadas em um vaso único e também guardadas e o casal se retira para o quarto, masmorra, etc. Esse é o segundo momento bem diferente de um “casamento”. Aqui, não tem festa nem confraternização com os amigos. O casal vai pro seu quarto, e o que acontece “em Vegas, fica em Vegas”!

Pela manhã, as rosas são despetaladas e guardadas juntas... E o casal mantem essas pétalas até quando a relação durar... A mistura dessas pétalas indica que, daqui em diante, são duas vidas imiscuídas, que somam uma à outra. Por fim, a corrente, que foi entregue no momento da cerimônia, geralmente é passada para a pessoa que o casal achar que é “digna” do presente. Essa pessoa poderá usar na sua própria cerimônia, se assim desejar.

Espero que esse texto seja útil pra desmistificar essas falhas de interpretação relativas à uma cerimônia puramente litúrgica e que, nesses blogs de cópia e cola, é descrita como “até que a morte os separe”, “o casal vai levar pro tumulo”, “à meia noite levarei sua alma” e demais delírios que envolvem o dito BDSM litúrgico. É um rito lindo, uma cerimônia especial, mas, em momento algum, as pessoas envolvidas nela passam ao estado do quinto elemento e deixam de ser PESSOAS. Pessoas que falham, que desistem, que são imperfeitas. Essa também é a magia do BDSM. Beleza e caos.




domingo, 15 de setembro de 2019

Sobre SPACE, DROP e outros bichos


Depois de um longo e tenebroso inverno, resolvi voltar a escrever. Como não poderia deixar de ser, escolhi esse assunto que é muito comentado nos grupos e fóruns de BDSM, porém, muitas vezes com informações errôneas e desencontradas, que mais atrapalham que ajudam.

Frequentemente ouvimos falar em SubspaceSubdrop e Sub-burnout, sendo esse último o estado emocional menos comentado. No entanto, não são apenas os bottoms que sofrem essas alterações neuroquímicas, portanto, usarei daqui pra frente apenas os termos "SPACE", "DROP" e "BURNOUT", que se aplicam à Tops e Bottoms.

Eu costumo fazer uma analogia bem didática pra exemplificar o balanço entre space e drop, usando uma patologia bem conhecida da maioria das pessoas: o diabetes. Diabetes é um descontrole da quantidade de glicose no sangue, regulada basicamente por dois hormônios: insulina e glucagon. Quando a gente ingere muito açúcar, a insulina é "despejada" na corrente sanguínea pra diminuir a absorção de glicose, e o contrário, quando temos uma baixa oferta de glicose circulante, o glucagon quebra moléculas de carboidratos armazenados e libera mais glicose no sangue.

Você deve estar se perguntando o que diabetes tem a ver com BDSM. A questão é que, uma vez que o space, que é a parte "boa", a onda, o transe, é regulado por neurotransmissores e hormônios, é como se fosse um monte de "glicose" jogada na corrente sanguínea, então, seu corpo vai entender que, havendo excessos, ele deve disparar algum mecanismo que balanceie e equilibre isso. E aí vem o drop...

De forma a deixar esse bate papo mais didático e menos complicado, vou tentar descrever esses estados emocionais/psicológicos/neuroquímicos em tópicos.

SPACE

A primeira coisa que se deve dizer sobre space é que "NÃO É ERRADO NÃO ENTRAR EM SPACE". Vejo inúmeras pessoas se cobrando por nunca terem entrado em space, como se a play ou sessão não tivesse sido prazerosa o suficiente , ou como se entrar em space fosse muito mais uma questão de status social (eu sou um BDSMer melhor que os outros). Como no caso de uso de quaisquer substâncias que alterem a consciência e percepção, como álcool, drogas ou medicamentos, existem pessoas mais suscetíveis e outras mais resistentes, mas o fato de ser mais resistente não significa que você não esteja sofrendo esses efeitos.

E o que significa, de forma prática, o space? Esse estado nada mais é do que a liberação de endorfina e aumento dos níveis de adrenalina no sangue. A endorfina é um neuro-hormônio liberado em reposta à dor (endo=dentro, orfina=morfina) e ao controle da depressão, stress e ansiedade. Então, da mesma forma que você libera endorfina quando faz atividade física, quando quebra um braço ou rala os joelhos, esse hormônio é liberado quando você sofre um spanking, por exemplo. Quando nosso corpo libera endorfinas, ele libera outros hormônios que são responsáveis pelo aumento nos níveis de adrenalina (sugiro ler o outro post aqui, chamado as bases bioquímicas do amor). A adrenalina é o hormônio do medo, da fuga, que relaxa alguns músculos e contrai outros, aumenta a pressão arterial e prepara o corpo pra reações extremas.

Quando toda essa tempestade neuro-hormonal é disparada em resposta à dor, o que acontece é que se iniciam processos que vão culminar na expansão ou perda de consciência, transe e a sensação de estar fora do corpo. Algumas pessoas parecem estar embriagadas, drogadas ou ainda, têm "ataques de riso". Essas diferenças refletem as particularidades de como cada um reage à esses estímulos. Outras pessoas podem reagir ao space com comportamentos eufóricos, alegres, porém, conscientes. Porém, uma fase comum à todas as pessoas que entram em space é o "spin", descrito por alguns terapeutas sexuais como o estágio em que fazemos qualquer coisa, literalmente, pra manter a sensação de prazer e quebrar a inibição durante o sexo. O spin também pode ser definido como a sensação de orgasmo permanente, da qual fazemos de tudo pra não sair...

Submissos não masoquistas tendem a entrar em um outro tipo de space, relacionado com a necessidade de servir. É o momento que a submissão tá no auge, que o prazer é todo direcionado para o Top, e que a noção de alegria se resume ao serviço, à entrega, à condição de estar sendo moldado pelo prazer de quem comanda a cena. 

Independente da condição, se bottom ou Top, se submisso ou masoquista, o ápice do space é o momento em que tudo desaparece e ali permanecem apenas Top e bottom. Os sentidos são brutalmente apurados ou apenas desvanecem, gerando uma sensação de torpor. É por essa razão que o space é uma faca de dois gumes: apesar da imensa onda de prazer, o pensamento racional, a tomada de decisões e, especialmente, o reconhecimento de limites ficam prejudicados. É nesse momento que o Top deve diminuir o ritmo e gradualmente parar a cena, trazer o bottom devagarinho de volta a realidade e iniciar o aftercare.

Mas como o Top reconhece o space? A linguagem corporal geralmente dá a dica de que o space chegou. Produção excessiva de saliva ou boca seca, tremores, sudorese intensa ou queda brusca de temperatura, emissão de sons guturais ou dificuldade de articular as palavras. Algumas pessoas podem entrar em estados tão profundos de inconsciência que ficam incapazes de responder à perguntas simples, como "qual seu nome?" ou " está claro ou escuro?". A palavra de ordem nesse momento é "PARE", porque essa pessoa não tem mais limites físicos e é incapaz de pronunciar a palavra de segurança, por exemplo.

Você deve estar se perguntando como é que isso se aplica ao Top. Explico: o Top também sente dor, também faz esforço. Imagina bater em alguém por horas, a tensão da cena que faz com que os músculos se contraiam, a tempestade de adrenalina (não se esqueça que seu corpo não entende o ato de bater e apanhar como "naturais", apenas como ação e reação à um perigo iminente). Dessa forma, embora seja muito menos comum, Tops também podem entrar em space. 

Na verdade, o estereótipo do Top como alguém completamente forte e inatingível é bastante tóxico dentro do BDSM. Segue o mesmo princípio de "homem não chora". Tops são humanos, sentem cansaço, fadiga, tristeza e têm dias ruins. Não é porque estamos cuidado de outra pessoa que não precisamos de cuidados também. Nesses casos, é bom que tenhamos alguém com quem conversar, ou que utilizemos dos mesmos artifícios do aftercare com o bottom: Um chocolate (retarda a queda de endorfina), um livro, filmes, um bom banho... Coisas que dão prazer.

Reforço, com esses últimos parágrafos, a importância de nos relacionarmos com pessoas não apenas experientes, pois toda experiência parte da inexperiência, mas com pessoas que se preocupam em conhecer seu corpo, em primeiro lugar, antes de praticar BDSM. Além disso, e sobretudo, com a responsabilidade que é conduzir e ser conduzido, de forma a saber em que momento deve-se abrir mão do prazer em nome da segurança. 





Molécula de miosina carregando a endorfina para a porção parietal do cérebro que gera felicidade


Subtópico: A importância do AfterCare
Basicamente, como o próprio nome diz, aftercare são os cuidados "após". Tudo o que ocorre após uma sessão ou uma play aberta, que traga alguém de volta a realidade. O aftercare restabelece os papéis normais de Tops e bottoms após a prática, e, ao contrário do que muita gente acha, e por essa razão, recusa-se a praticar o aftercare, esse não é momento de botar no colo, dormir de conchinha e dar beijinho (a menos que seja prazeroso pra ambos, é claro!). Após o spanking, por exemplo, ou práticas mais invasivas como blood play, o after é composto primariamente de primeiros socorros "físicos". É o momento de realizar a limpeza dos cortes e lesões, oferecer pomadas ou analgésicos (verificar com o bottom antes da play quais os medicamentos ele pode usar), oferecer água e um doce, de preferência chocolate, caso o bottom não seja diabético (nesse caso, chocolate dietético para manter os níveis de endorfina se normalizando lentamente), contato físico, de preferência em alguma área que não tenha sido afetada pela cena, que pode ser um abraço ou simplesmente, sentar-se ao lado do bottom para observar suas reações e demonstrar seu interesse em que tudo corra bem com ele dali pra frente. Eu costumo dizer que muita coisa no BDSM é teoria, mas o aftercare é OBRIGATÓRIO. É o desfecho da prática, é o reforço dos laços afetivos e de confiança. E mesmo com praticantes ocasionais, com os quais não se tem uma relação, isso não pode ser negligenciado.



DROP

De forma bem objetiva, o drop é um estado de exaustão neuroquímica que se segue após a prática. Como eu disse lá no tópico do space, quando praticamos BDSM, sofremos uma tempestade de endorfinas e adrenalina, e é natural que terminada a prática, o corpo vá retornando aos níveis normais dessas substâncias. No entanto, devido à intensidade da cena, é comum a sensação angustiante provocada pela falta desses estímulos, que pode ser leve, moderada e acentuada, dependendo da pessoa, e pode culminar em estados depressivos provocados pelos baixos níveis de endorfina e dopamina, por exemplo. Existem alguns sinais clássicos de drop, que serão descritos abaixo e, por experiência própria, uma das formas de minimizar essa sensação é desligar-se lentamente da cena. Ao fim da prática, em vez de simplesmente desamarrar uma pessoa que está presa, ou simplesmente parar de bater, é importante que seja diminuído gradativamente o ritmo do spanking, ou no caso de bondage por  exemplo, que sejam tiradas as vendas, depois a mordaça, depois as algemas ou cordas, e em meio a toda essas ações, que haja conversa, elogios, que o Top agradeça ao bottom por ele ter confiado, por ter proporcionado um bom jogo, etc. Atitudes como essas ajudam a minimizar a sensação de abandono que pode acompanhar o drop.
NOTA PARA OS TOPS: JAMAIS deixem de agradecer aos bottoms, nem de demonstrar como eles foram importantes e proporcionaram prazer!!!!

Como identificar o drop?
O drop pode incluir sinais físicos prolongados e emocionais, e de maneira geral, esses são os mais comuns:

SINAIS FÍSICOS
  • Boca seca, sede excessiva, como se estivesse de ressaca;
  • Dores pelo corpo (provocadas não apenas pelo impacto ou pela contenção, mas pela contração muscular em momentos de tensão);
  • Câimbras;
  • Cansaço extremo, mais do que o normal;
  • Tonturas
  • Sudorese intensa, que pode ser suor frio ou não;
  • Tremores;
  • Sensação de "choque elétrico"

SINAIS EMOCIONAIS
  • Irritabilidade;
  • Tristeza;
  • Dificuldade de concentração;
  • Dificuldade para dormir ou excesso de sono;
  • Dificuldade para comer ou excesso de apetite;
  • Ansiedade persistente e sem controle;]
  • Sensação de abandono e solidão;
  • Culpa;
  • Medo;
  • Negação;
  • Dependência emocional
OBS: O drop pode se manifestar de 24 a 72h após a prática, portanto, é necessário o acompanhamento nesse período. É bom desconfiar também de estados de euforia constante, pois podem ser indicativos de mecanismos de negação.

Rolou o drop. E agora, como lidar com isso?
Os sintomas físicos do drop são infinitamente mais simples de serem sanados, desde que feito um aftercare correto. É importante acompanhar a evolução das dores, e, caso os medicamentos utilizados não estejam sendo suficientes, é necessário procurar ajuda médica, para verificar possíveis lesões não intencionais que não tenham sido identificadas. O cuidado com as marcas também é necessário, visto que a permanência delas pode induzir o bottom ao estado de culpa ou vergonha, porém, por outro lado, existem pessoas que gostam de observar suas marcas e isso traz a elas conforto e prazer. Quanto aos sintomas emocionais, obviamente, tudo que acontece dentro das nossas cabecinhas toma proporções muitas vezes desastrosas, que podem nos levar a um estado de depressão e vazio incontroláveis. Muitas vezes a sensação mais comum é a do abandono, provocada pela falta de estímulo e intensidade da prática ocorrida, o que é puramente fisiológico mas toma proporções irracionais. Nesse momento, o diálogo é fundamental, mas se fazer presente de alguma forma, é essencial. No caso de impossibilidade de encontros presenciais, é necessário que o Top telefone, envie mensagens, e nessas demonstre a todo tempo que o bottom foi incrível, que seja elevada sua autoestima para evitar sentimentos de culpa e de incapacidade. A carência e dependência nesse momento são muito, muito usuais, então paciência e carinho, são os antídotos. Não seja ríspido e não se ofenda com uma pessoa que "acha" que você está distante, porque pra ela isso não é simplesmente "achar". Ela tem certeza disso, mesmo que não seja verdade! Como eu digo, BDSM não é pra quem quer, e sim, pra quem aguenta. Se você acha que não tem condições e/ou disponibilidade para dar esse suporte emocional, não pratique! 

Conselho aos Tops: A cena vai muito mais além daquilo que você mostra numa festa ou em fotos. O que tá por trás e se segue após tudo isso é o que faz de você uma pessoa responsável.





É importante lembrar que o drop ocorre muito mais frequentemente em relacionamentos estabelecidos, seja um casal ou um play partner com quem você tenha laços. Isso acontece porque em plays casuais, os elementos afetividade e intimidade, que acontecem nos relacionamentos já estabelecidos, não têm o mesmo peso, pois são justamente essa intimidade e confiança que podem ser questionadas durante o drop. Não importa o quanto você confie em alguém, que isso não impede que sentimentos como descrença (é possível que eu seja tão sujo e pervertido a ponto de gostar disso?") venham à tona, e isso culmine no drop. Além disso, limites estabelecidos em relacionamentos de "compromisso", podem ser frequentemente testados e expandidos, o que não ocorre (ou não deveria ocorrer) numa play casual, que não tem tempo nem histórico emocional suficiente para criar um ambiente pra realização de "edge plays". 

Quando o drop se prolonga por longos períodos, e apesar de todos os cuidados pra que isso não ocorra terem sido tomados, quando a sensação de tristeza e depressão vêm acompanhadas até de impulsos suicidas motivados pela sensação de incapacidade, de ineficiência e de insatisfação, pode estar configurada uma síndrome psicológica desencadeada pelo stress contínuo, o burnout.  


BURNOUT

Essa nomenclatura não é algo inerente ao BDSM, mas à uma síndrome psicológica que se caracteriza pela apatia provocada pelo acúmulo de stress, atualmente muito ligada ao trabalho. De acordo com Freudenberger, psicólogo clínico que na década de 70 deu nome à síndrome, um indivíduo com burnout se comporta como estando frustrado ou com fadiga desencadeada pelo investimento em determinada causa, modo de vida ou relacionamento que não correspondeu às expectativas. As pessoas nessa condição, frequentemente deixam de investir nas relações afetivas, em virtude da exaustão causada pelo stress decorrente de se sentirem o tempo todo sob a pressão de agradar e da consequente sensação de que não são bons o suficiente, de serem os melhores partners, de estarem o tempo todo impecáveis para fotos e práticas abertas, entre outros fatores. O burnout é, ainda, mais comum em relacionamentos longos que misturam a vida baunilha, e em relações TPE, por exemplo. 

Esse estado psicológico se caracteriza pela falta de desejo de se submeter ou de dominar, e geralmente a letargia e apatia são gritantes. O esgotamento geralmente ocorre quando os recursos de criatividade foram extenuados, em que não existe mais excitação com o fetiche nem interesse em demonstrar e/ou falar disso com alguém. Nessa situação, deixa de investir nas relações afetivas e, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver emocionalmente com o mesmo. A exaustão emocional dos que sofrem desse quadro é diretamente ligada a um quadro de intensa tensão emocional que leva ao esgotamento e apatia, e que pode se agravar até a despersonalização e desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, como suicídio. Obviamente essa síndrome é um conjunto de fatores, e as práticas BDSM podem não ser o determinante, mas certamente são agravantes. De qualquer forma, por se tratar de um quadro permanente por longos períodos, requer assistência psicológica e/ou psiquiátrica, em virtude dos graves desdobramentos desse quadro. No entanto, reforço que, assim como durante todo o processo que envolve o BDSM, desde uma play avulsa até um relacionamento longo de dinâmica 24/7, a consensualidade, a responsabilidade física e, sobretudo, emocional, devem ser os pilares sobre os quais sejam construídas todas essas relações.




Até breve