domingo, 25 de outubro de 2015

Segurança x BDSM



Segurança é um dos pilares mais sólidos do BDSM. Está presente em todas as bases, 

direta (como no SSC e no SSS) e indiretamente (como no RACK, PRICK, PCRM,  RISSCK – 

assumir o risco também envolve segurança).


Vemos um crescente número de simpatizantes e praticantes do BDSM, em parte pelo 

“boom” de trilogias eróticas com elementos de dominação e submissão, pessoas em 

busca de novos prazeres, de apimentar sua vida sexual ou ainda, aqueles que estão aos 

poucos aceitando, entendendo e vivenciando seus fetiches. 


Embora o texto a seguir seja direcionado aos iniciantes, creio que pode contribuir com 

todos os praticantes, pois em termos de segurança, os mais suscetíveis a erros são os 

extremos: os inexperientes, por falta de conhecimento, e os experientes, por 

negligenciar o dano. É o famoso “faço isso há anos e nunca deu errado”. Mas um dia, 

pode dar.


TOPS e bottoms têm a obrigação de zelar por sua segurança. Embora o TOP seja o 

“designer” e condutor da sessão, é obrigação do bottom relatar quaisquer patologias e 

dificuldades ANTES da sessão. O TOP precisa saber se suas práticas serão limitadas por 

problemas cardíacos, alergias, doenças respiratórias, diabetes, problema de 

coagulação, cicatrização e circulatórios, por motivos óbvios. Um bottom que tenha 

problemas de coagulação, cicatrização e diabetes, por exemplo, não pode ser 

submetido a sessões de cutting. Tromboses e flebites, ou até mesmo varizes mais 

complicadas impedem que o bottom seja mantido imobilizado e na mesma posição 

por muito tempo. Alergias podem ser cruciais numa cena de wax play (velas), e os 

problemas cardíacos, diretamente ligados a stress e aumento da pressão arterial, 

podem ter uma crise desencadeada por uma sessão de spanking, por exemplo. Até em 

uma sessão que exista a ingestão de alimentos, pois diversas pessoas são alérgicas.

Pretendo aqui, fazer um passeio pelas práticas, das mais simples às mais complexas, 

traçando um paralelo com algumas “dicas” de segurança, fundamentais pra uma 

sessão perfeita e sem prejuízo à saúde do bottom. O bem estar do bottom reflete 

diretamente na qualidade da relação, e no desenvolvimento dela. Não se pode 

negligenciar cuidados antes, durante e após a sessão, e o objetivo deste artigo é 

simplificar e demonstrar que vc não precisa ser um profissional da área de saúde, nem 

um arquiteto ou engenheiro pra fazer as coisas darem certo.


A primeira regra de segurança em uma sessão é o estabelecimento da “safeword”, a 

palavra de segurança. A safe deve ser verbal, com o uso de uma palavra que não 

remeta a NADA do que está envolvido numa sessão. Não adianta o bottom no 

momento de um spanking, por exemplo, dizer “Chega”, “Pare”. Isso pode ser 

facilmente e interpretado pelo TOP como um estímulo, como parte do jogo, e levá-lo a 

aumentar a intensidade dos golpes. Vejo o uso de palavras corriqueiras, nomes de 

objetos ou alimentos utilizados como safeword, como “feijão”, “abajur”, “casa”, 

“morango”. Estas palavras tiram o TOP imediatamente da atmosfera da sessão e o 

trazem pra realidade de que deve parar imediatamente.


Outro tipo de safeword é a gestual. Esta é utilizada quando o bottom está impedido de 

falar, durante o uso de mordaças ou outros dispositivos de supressão da voz. Deve-se 

combinar previamente um movimento, ou gesto, que demonstre ao TOP a 

necessidade de interromper aquela prática. Há ainda casos em que o bottom está 

amordaçado e restrito, e nesses casos, há que se contar apenas com a experiência do 

TOP e com a interação do casal. Não é aconselhado privação de sentidos associada a 

bondage a quem não tem experiência, ou que ainda não conhece profundamente a 

sua peça. 


O segundo ponto que deve ser abordado com relação à segurança, diz respeito a um 

conceito quase óbvio: a higiene. Especialmente direcionado aos praticantes mais 

extremos, como os adeptos de blood play (prática que envolve cortes, suturas e 

perfurações), a higiene não pode NUNCA ser negligenciada.


A limpeza e assepsia da pele que será submetida a essa prática é fundamental pra 

minimizar o risco de infecções. Limpeza prévia da pele com álcool 70%, e desinfecção 

do material a ser utilizado, de preferência com solução de hipoclorito de sódio 10-15% 

por quinze minutos, além da utilização de lâminas e agulhas estéreis. Em tempos de 

HIV e hepatite, além de diversas doenças transmitidas pelo contato com sangue 

contaminado, cuidado nunca é demais. Uso de luvas descartáveis pelo TOP também é 

um ponto que merece ser lembrado. E a vigilância constante dos exames de sangue do 

seu bottom!


A inserção de catéteres uretrais, além de exigir destreza do TOP, exige um cuidado 

ainda mais apurado da região genital. E na hora do fisting, seja anal ou vaginal, não se 

deve esquecer que as mãos devem estar limpas, e para TOPS de bottoms femininas, 

lembrar sempre que a mão que penetra o ânus não deve penetrar a vagina, por ser 

potencial carreador de microrganismos infecciosos que podem causar doenças capazes 

de levar sua menina à esterilidade. E por fim, a limpeza dos brinquedos sexuais deve 

ser cuidadosa. Existem microrganismos resistentes que podem permanecer viáveis por 

dias, e no caso de compartilhamento de brinquedos, o risco de uma DST não deve ser 

descartado.


Lembrar que todo material descartável como agulhas, cateteres e outros devem ser 

descartados se forma segura e de acordo com os padrões de higiene recomendados. 

JAMAIS JOGUE AGULHAS OU CATETERES DIRETAMENTE NO LIXO. Use as caixas que 

podem ser encontradas nos distribuidores de produtos médico-hospitalares e 

descarte-as apropriadamente.


Atenção para o uso de plugs e demais objetos inseridos no ânus. Por conta do vácuo 

que se cria nessa região, estes dispositivos devem ter sempre a base mais larga para 

evitar que sejam “sugados” para a região interna, podendo causar obstrução retal e 

maiores complicações.


Práticas que envolvam excreções, como scat (fezes) e chuva dourada (urina), merecem 

atenção sob o aspecto biológico da questão. Os praticantes devem ter em mente que 

as fezes são potenciais carreadores de parasitas intestinais, que podem ser 

transmitidos pela ingestão, provocando parasitoses que podem promover quadros 

intestinais ou até mesmo cerebrais. A urina, por sua vez, é constituída de compostos 

extremamente tóxicos, como uréia e amônia, que ao contrário do que já vi em muitos 

lugares, não são “diluídos” com a ingestão de maiores quantidades de água pelo TOP.

Para os praticantes de bondage, a atenção deve estar voltada para a circulação. Não se 

esqueça que o bottom vai se contorcer, e as cordas, se não atadas corretamente vão 

comprimir a circulação. Deve-se ter um cuidado redobrado com as articulações. Evitar 

colocar pressão sobre cotovelos, ombros, tornozelos, e em caso de posições que 

amarram os braços pra trás, especialmente se o bottom estiver deitado, observar 

atentamente o ritmo respiratório. Essas posições costumam comprimir os pulmões e 

dificultar a respiração, podendo levar a um quadro de asfixia.


Se por alguma razão houver a necessidade de interrupção imediata da imobilização, 

tenha sempre a mão uma tesoura, SEM PONTA (Daquelas utilizadas para o corte de 

ataduras e gesso). Uso de facas, canivetes e outros instrumentos perfurocortantes no 

momento em que seu bottom está se debatendo por falta de ar ou com as 

extremidades roxas por falta de circulação, pode ocasionar um desastre sem 

precedentes. Vale lembrar que a corda deve ter uma folga na amarração onde o top 

seja capaz de colocar um dedo ou dois com facilidade.


Nota para os bottoms: relate IMEDIATAMENTE ao seu TOP se vc sentir qualquer 

formigamento ou dormência, para que ele possa interromper a imobilização.

A asfixia erótica ou autoerótica é uma das práticas mais perigosas no BDSM. A pressão 

sobre a traquéia e artérias próximas pode levar a morte ou provocar danos graves. O 

grande problema está no limite tênue entre prazer e baixa oxigenação cerebral, e no 

curto tempo em que esse limite pode ser rompido. Isso vale mais uma vez para as 

posições que envolvem imobilização de bruços. Ainda sobre asfixia, muito cuidado ao 

inserir objetos na boca do bottom, que podem ser engolidos e dificultar ou impedir a 

respiração.


Um outro ponto importante sobre imobilização, é que o TOP não deve, JAMAIS, deixar 

seu bottom sozinho. Uma pessoa amarrada está vulnerável e não poderá socorrer a si 

própria em caso de prejuízo circulatório ou respiratório. Assim como o bottom, o TOP 

deve se precaver de quando esta fazendo uma cena de total imobilização do bottom 

ou mesmo suspensão deste, deve ter um failsafe. Alguém de confiança que ligue de 

tempos em tempos para saber se tudo está bem. Pois se acontecer algo com o TOP o 

bottom não poderá fazer nada estando totalmente imobilizado ou até suspenso.

Clamps (ou grampos), são acessórios que podem provocar muito prazer, 

especialmente nos bottoms masoquistas, por provocarem dor intensa e aguda. Porém, 

não devem ser usados por um longo período de tempo por conta da interrupção da 

circulação nos locais em que são aplicados. 


Nota sobre os bottoms masoquistas: Por terem maior resistência e muito prazer com a 

dor, geralmente têm seus limiares muito altos, e cabe ao TOP determinar o fim de uma 

prática, no momento em que é percebido qualquer risco imediato ou futuro para sua 

segurança e saúde.


Nada mais usual no BDSM que o spanking, certo? Aquela sensação maravilhosa de dar 

e receber tapas, açoites, castigos… O que é importante saber é onde aplicar esses 

golpes. Existem zonas “verdes”(permitido), “amarelas”(permitido com atenção) e 

“vermelhas” (proibido) de spanking por todo o nosso corpo. A parte inferior das 

costas, onde se localizam os rins, é uma zona vermelha. Um golpe mais forte nessa 

região pode provocar rompimento de estruturas renais que podem causar falência do 

órgão, levando, ao longo do tempo, o bottom à morte. A coluna vertebral, por seu 

grande risco de lesões que podem levar à paralisia, também é uma zona vermelha. A 

região do pescoço, pelos mesmo motivos relatados no tópico sobre asfixia, e 

articulações dos braços e pernas, pela presença de estruturas venosas profundas 

nesses locais, são zonas de impacto proibido.


Lembrem-se que em uma prática com um chicote longo devemos proteger as áreas 

vermelhas do corpo do bottom para evitar lesões, pois as chicotadas neste caso 

escapam do controle do TOP, por mais destreza que ele possua. Proteja a área dos rins 

e mantenha o rosto do bottom em uma posição que uma chicotada errada não a 

acerte. O mesmo vale para as outras áreas vermelhas.


As zonas amarelas, compreendem aquelas que a força deve ser moderada. Seios, 

região superior dos pés e mãos, e porção superior do tórax, merecem atenção, porém, 

não são zonas proibidas. “E em que lugar tá liberado? Onde é que finalmente acontece 

a mágica do spanking?” Nas nádegas (nada mais gostoso que bater na bunda, certo?), 

coxas e panturrilhas, locais com mais massa muscular e pouco vascularizados. 


Bom, acredito ter abordado as questões principais de segurança relativas às práticas 

mais usuais dentro do BDSM. Ressalto, mais uma vez, a importância do relato do 

bottom sobre quaisquer doenças e condições que mereçam atenção especial. Negar 

essas informações, além de prejudiciais à sua vida, podem causar sérias implicações, 

até mesmo criminais ao seu TOP. Uma relação é constituída de troca e de confiança, e 

não seria diferente aqui.


Espero ter contribuído para sanar algumas dúvidas. Saudações a todos e boas práticas!

4 comentários:

  1. Parabéns pelas dicas e pelo blog. Tenho iniciado após 9 anos de relacionamento uma verdadeira relação D/s e isso tem sido muito enriquecedor para nós e digo até que encontrei minha vocação na vida aos 40 anos e como estamos expandindo as praticas após muito dialogo sempre é bom saber como fazer e fazer com segurança. Ps. Percebo que ultimamente encontramos infelizmente poucos blogs que falam sobre o tema FEMDOM e BDSM e a maioria é de postagens antigas e ficam desatualizados. Não sei o motivo disso.

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    1. Obrigada pelo retorno e pelas palavras tão gentis. E me desculpe a demora em responder... Estava envolvida com diversos problemas pessoais que me impediram temporariamente de me dedicar mais ao meu blog. Porém, estou de volta, atualizando sempre que possível. Saudações.

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  2. E no caso de o bottom ter algum distúrbio mental, a cena ainda poderia ser feita ?

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    1. Depende de vários fatores. Depende do tipo de distúrbio, do bottom estar ou não em crise, de estar medicado e com as oscilações controladas, enfim... muitas coisas podem interferir em poder ou não.

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