terça-feira, 12 de abril de 2016

As bases bioquímicas do amor


Falar de amor em um blog de BDSM pode parecer meio estranho, mas quem de nós não está sujeito a esse "acidente de percurso"? De fato, não há que se separar completamente amor e BDSM quando se trata de bioquímica... o frio na barriga provocado pela visão do amor da sua vida tem a mesma origem do frio na barriga durante aquela sessão tão esperada. Pensando nisso, escrevi esse texto (gostaria de ressaltar que foi com propriedade de profissional da área de saúde que coloquei cada palavra nele), pra tentar esmiuçar da melhor forma possível, o papel - primordial - dos neurotransmissores nas nossas emoções e sensações.


“Rolou uma química entre a gente!” Quantas vezes vocês já ouviram ou disseram essa frase? “Tô viciada em fulano!” Essa também é uma expressão recorrente e ambas são verdadeiras. Amor é pura química, e a paixão envolve diversos componentes que também são desencadeados pelo vício. Mas não se choquem, vamos explicar passo a passo como isso acontece!

Coração acelerado, pupilas dilatadas, suor nas mãos, e aquela sensação de frio na barriga... Poderia ser um momento de estresse profundo, de perigo, mas não... é a melhor sensação do mundo. Você está apaixonado! Mas como isso acontece? Diversos neurocientistas estudam anos a fio a bioquímica da paixão. Sabemos que diversos hormônios e neurotransmissores estão envolvidos nessa história toda, mas como? Pode parecer meio triste dizer isso, mas aquela pessoa que desperta seus melhores pensamentos e sensações está conectada a você apenas através de mediadores químicos, mas não se desespere... Não é por esse motivo que você vai deixar de ter os olhos brilhando. Então, vamos lá!


Hormônios e neurotransmissores: Quem são esses “bichos”?

I – Vamos falar da paixão

Testosterona
A testosterona possui a fórmula molecular  C19H28O2.Nos homens, é produzido pelos testículos e na mulher pelos ovários e supra renais, a partir da androstenodiona. Homens produzem cerca de 20 a 30 vezes mais testosterona que mulheres, e isso confere a eles o status de “predador sexual”, porque a testosterona é o principal responsável pela libido sexual. O ápice da produção de testosterona nos homens é entre 25 e 30 anos, e nas mulheres, um pouco mais cedo. É por essa razão, que se pudéssemos estimar o desejo sexual dos casais, poderíamos arbitrar que os casais que mais transam são os compostos por um homem de 27 e uma mulher de 20, por exemplo. Mas óbvio que isso não significa qualidade... Mulheres por volta dos 40 anos tem um declínio da produção desse hormônio, acentuada ainda mais pela menopausa, mas são mais experientes, seguras de si, decididas e bem resolvidas com seu corpo, e isso proporciona relações sexuais muito mais intensas e satisfatórias.

Cabe lembrar que a testosterona é um hormônio regulado por alguns outros, como adrenalina, serotonina e endorfina. Adrenalina é um hormônio ligado ao stress, que regula negativamente a produção de testosterona. O contrário ocorre com a serotonina e endorfinas, que regulam positivamente. Sendo assim, pra manter sua libido em alta, não se estresse e procure realizar atividades que dão prazer, como dança, malhação e até um bom pedaço de chocolate!

 Dopamina
A dopamina é um composto orgânico oxigenado e nitrogenado, cuja fórmula molecular é C8H11NO2. É ela que inunda o nosso corpo no momento do beijo, que nos faz sentir o frio na barriga, e está intimamente ligada ao estímulo mental. Sabe aquele jantar que você tá planejando há uma semana? E na hora que o cara (ou a mina) chega, você sorri com os olhos? Pois é... é seu corpo inundado de dopamina.

Entretanto, a dopamina não está distribuída igualmente nos seres humanos em todas as fases da vida. Se fosse assim, estaríamos num estado de felicidade letárgica eterna. Crianças tendem a ter maiores quantidades de dopamina porque o fígado delas, novinho e sem nenhuma lesão provocada por álcool e medicamentos que nos acompanham ao longo da vida, produzem mais tirosina, o que aumenta os índices de dopamina no sangue. Isso explica a felicidade pueril, a satisfação com pequenas coisas.
Adolescentes são as criaturas mais chatas da face da terra. Sabe por quê? Porque na puberdade os índices de dopamina caem drasticamente e isso se reflete na irritabilidade, depressão, desinteresse por atividades cotidianas e a agressividade típica do adolescente. Cabe ressaltar que a falta de dopamina causa um dos maiores problemas de saúde pública mundial: A depressão. Depressão não é frescura nem falta do que fazer. É um distúrbio bioquímico que merece ser olhado com muita atenção.

Noradrenalina
A noradrenalina (ou norepirefrina) é um composto orgânico cuja fórmula molecular é C8H11NO3. Assim como a sua companheira, adrenalina, esse hormônio é vasodilatador, aumenta o fluxo sanguíneo e batimentos cardíacos, provoca insônia (sabe aquelas noites e noites em claro pensando no seu amor? Culpa da noradrenalina) e exacerba os sentidos, bem como aumenta a atenção. Tudo que está relacionado com a outra pessoa chama muito mais a sua atenção.Você sente o cheiro dela mesmo quando ela tá distante, sente o toque dela, ouve a voz... São memórias táteis, olfativas, auditivas, todas elas permeadas pela secreção de noradrenalina no seu organismo.
Segundo a antropóloga Helen Fischer, em seu livro Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love, a sensação de bem estar do início da paixão é resultado da combinação entre noradenalina e dopamina, levando à estados de intensa hiperatividade, umidade nas mãos, aceleração dos batimentos cardíacos e sensação de felicidade. Porém, a autora ressalta que essa mistura só acontece em condições apropriadas, que discutiremos mais tarde.
Toda essa explosão de sensações intensas com o tempo vai se dissipando. Isso acontece porque o organismo, assim como ocorre com qualquer vício, vai adquirindo resistência aos efeitos dessas substancias, e aí acontece aquele baque: “acabou a paixão?” Alguns pesquisadores mostram em estudos comportamentais que esses efeitos duram no máximo três anos, e a partir daí o organismo começa a produzir outros hormônios, que são responsáveis por manter os laços afetivos e estabelecer o amor.

II- Falando de amor

Serotononina
A serotonina é um composto de C10H12N2O, diretamente ligada ao prazer, a saciedade e felicidade de um modo geral. Diferentemente da dopamina, que nos enche de energia, a serotonina nos acalma. Quando Cazuza falava da “sorte de um amor tranquilo”era de muita serotonina que ele falava...
Enquanto os apaixonados têm baixos índices de serotonina no corpo e isso se reflete em maiores ou menores graus de obsessão pelo outro, a serotonina nos fornece a sensação de tranquilidade de segurança, relacionados ao bem estar emocional. Baixos índices ou o mau aproveitamento da serotonina no corpo humano acarretam em sérios problemas de depressão, ejaculação precoce nos homens e acentua os sintomas da tensão pré-menstrual nas mulheres.
Este hormônio tem seu desempenho melhorado e/ou sua secreção aumentada pó atividades físicas, incluindo sexo, claro! Outras atividades como se expor ao sol e ingerir alimentos que contenham vitamina B6 também podem otimizar a atividade da serotonina.

Ocitocina

Por fim, vamos falar do hormônio do amor propriamente dito. A ocitocina, que tem fórmula molecular C43H66Al16N12O12S2. é responsável pela consolidação de laços afetivos, relações de afeto, confiança, generosidade e gratidão. Muito se fala da ocitocina em parturientes, porque é esse hormônio que estimula a produção de leite e as contrações durante o parto. É ele o responsável pelo amor incondicional que existe entre mãe e filho, que justifica a serenidade de mãe quando pega seu bebê no colo. Afora o momento do parto, a produção de ocitocina depende de estímulos mentais e tem curta duração, em média de 5 segundos. A substância permanece no organismo por um período também curto, não mais que dez minutos, porém, seus efeitos podem durar um dia inteiro.

O contato físico é um gatilho para a produção de ocitocina. Casais que se abraçam logo no início do dia podem ter a sensação de bem estar perdurada ao longo do mesmo. Ela também é produzida no momento do ato sexual, aumentando a ereção nos homens e lubrificando a vagina e facilitando o orgasmo em mulheres. É claramente descrito na literatura que a ocitocina estimula a produção de testosterona e sobre seus efeitos, já falamos anteriormente.

Com o declínio da produção de dopamina e noradrenalina com o passar do tempo, a paixão acaba e o corpo começa a produzir ocitocina para fortalecer os laços afetivos. É essa a fase do amor, do companheirismo e da união.

Assim como ocorre com os demais hormônios, existem mecanismos externos de estímulo da produção de ocitocina. O contato físico é o mais comum deles, especialmente o abraço. É por essa razão que nos sentimos tão confortáveis quando somos abraçados, mesmo em situações de estresse e tristeza. A ocitocina “trabalha” juntamente com outros dois hormônios que auxiliam na consolidação de uma relação: a vasopressina, que é o hormônio ligado à fidelidade, demonstrado em estudos comportamentais como importante em relacionamentos monogâmicos e a endorfina, considerada um analgésico natural que produz a sensação de calma e segurança.




6 comentários:

  1. Nossa que delícia de texto. Acabo de produzir muita ocitocina. Acabo de ler e adivinha, estou sorrindo. Felicidade instantânea ler esse texto.Bjs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Bia. Delícia é ter vc por aqui!!! Beijosssss

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Gostaria senhora pudesse dar uma entrevista grupo bdsm whastapp, 67981895766.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Ricardo, só vi agora seu comentário. Estou sem whatsapp no momento, mas será um prazer conceder a entrevista. Se quiser me adicione no facebook, é Morgana Bathory. Apenas diga que é o Ricardo q comentou no meu blog pra eu poder saber quem é. Obrigada.

      Excluir
  4. Gostei muito cedo seu texto principalmente por desmistificar a ideia de que amor e BDSM são excludentes entre si.

    ResponderExcluir